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segunda-feira, 3 de novembro de 2025

O luto na infância - como lidar de forma consciente




A parentalidade consciente convida-nos a estar verdadeiramente presentes e acolher as emoções das crianças com empatia e autenticidade. No luto, isso é especialmente importante.


Partilhamos neste artigo alguns princípios fundamentais:

- Honestidade emocional

Não esconda a sua própria tristeza. As crianças precisam ver que adultos também sentem e que está tudo bem chorar. Isso valida as emoções delas e ensina que os sentimentos difíceis são naturais e podem ser expressos de forma saudável.


- Comunicação clara e apropriada à idade

Use palavras verdadeiras como "morreu" ao invés de eufemismos como "foi viajar" ou "está a  dormir" "está num sono profundo", etc.

    - Adapte a explicação à capacidade de compreensão da criança

    - Permita perguntas repetidas - crianças processam informações aos poucos


- Presença genuína

Estar disponível emocionalmente é mais importante do que ter respostas perfeitas. Sente-se com a criança no desconforto, sem tentar "consertar" rapidamente a dor dela.

    - Como praticar?

        - Valide todos os sentimentos

        "É normal sentir raiva/tristeza/confusão. Não existe nada de errado em sentir saudade."

        - Crie rituais de memória

        Desenhar, fazer um álbum, acender uma vela, plantar uma árvore - rituais ajudam as  crianças a processar concretamente.

        - Mantenha rotinas

        A previsibilidade oferece segurança no meio do caos emocional.

        - Observe sem julgar

        As crianças podem alternar rapidamente entre tristeza profunda e brincadeiras alegres. Isso é saudável e normal.


Se a criança apresentar alteração comportamental significativa, problemas de sono, quebra no rendimento escolar, comportamentos regressivos, isolamento social ou agressividade procure apoio profissional! 

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

PHDA - Dentro de um Coração Inquieto

 PHDA - Dentro de um Coração Inquieto




      Uma criança com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) enfrenta diariamente desafios invisíveis aos olhos de muitos. Entre a agitação interior e a constante luta pela concentração, carrega o peso de um mundo que nem sempre entende a sua forma única de estar e sentir. Enquanto os outros exigem silêncio, foco e autocontrolo, ela trava uma batalha silenciosa contra impulsos que não escolhe ter. Cada tarefa simples pode transformar-se num obstáculo, e cada crítica deixa uma marca na sua frágil autoestima. "Só não consegues porque não queres" - afirmam repetitivamente. E é verdade muitas vezes. Só quem conhece e compreende bem a PHDA sabe da extrema dificuldade em iniciar ou manter-se numa tarefa sem motivação alguma...chamem a dopamina por favor!!! Questões de ordem neurológica infelizmente confundem-se com personalidade, com "malandrice...". 


        Na escola, o esforço é duplo: tentar acompanhar o ritmo dos colegas enquanto lida com o excesso de atenção a todos os estímulos à sua volta, a impaciência e a dificuldade em permanecer quieta. Ao ser repreendida por comportamentos que não consegue controlar, sente-se diferente, isolada e, muitas vezes, injustiçada. A frustração por não corresponder às expectativas transforma-se em tristeza e num sentimento de inadequação que a faz duvidar do seu próprio valor. 


        Em casa, os dias oscilam entre tentativas de foco e desânimo. Cada crítica, mesmo que bem-intencionada, reforça a sensação de ser “demais”, “difícil” ou “irresponsável”. Ainda assim, e às vezes com o seu tão frequente olhar vazio, essa criança continua a tentar — uma e outra vez — moldar-se a um mundo que parece exigir-lhe o impossível. Dentro dela há uma força que resiste: a vontade de provar que é capaz, apesar das suas diferenças. Quanta resiliência!!!! 


        No fundo, o que a criança com PHDA mais precisa não é de reprovações, mas de compreensão e apoio. Precisa que vejam o seu esforço e reconheçam que cada pequeno progresso é fruto de uma imensa coragem. Precisam que alguém as ajude com o "sistema de travões" quando a impulsividade domina ou redirecione o seu "GPS" já que tantas vezes se perdem no decorrer das atividades diárias. Precisam de um parceiro de responsabilidades, isto é, alguém que atua como um guia externo para as funções executivas (planeamento, organização, autocontrolo) que são mais frágeis numa criança com PHDA. Esta parceria não só ajuda na conclusão de tarefas, mas também ensina à criança, de forma gradual e consistente, as competências de que necessita para se tornar mais independente e confiante. 

            Por trás de cada impulso, há um coração que apenas quer ser aceite e amado! 

Um apelo a todos os pais e professores que acompanham estas crianças: 

não os deixem sós com as suas lutas! 

Pode demorar e ser exigente, mas o retorno virá e não raras vezes até na idade adulta surge o reconhecimento de um adulto que acreditou e manteve-se firme, sem nunca questionar ou duvidar do valor daquela criança! Ela é muito mais que os seus desafios, mostrem-lhe isso e sobretudo e sem hesitação, reforcem as suas qualidades e talentos naturais, os seus interesses!!! Quando os descobrem e decidem seguir esse caminho ... são imparáveis, apaixonados e intensamente dedicados! Facilmente se tornarão os melhores dos melhores!!!

terça-feira, 29 de julho de 2025

Timidez na infância: é natural ou motivo de preocupação?

 


    A timidez na infância, quando motivada pela exposição à novidade, refere-se a um importante mecanismo de proteção da criança, que pensa "Será seguro?" "Posso mesmo confiar nesta pessoa?". Em certa medida pode ser algo benéfico!

    

    Mas então porque é que algumas crianças são tímidas e outras não?

    A timidez pode estar relacionada com fatores genéticos (timidez temperamental) e/ou com as nossas experiências de vida (timidez emocional). Ambientes superprotetores ou demasiado críticos e exigentes, que não têm em conta as necessidades emocionais das crianças, podem favorecer uma maior tendência para a timidez. 

    É na infância que se estão a desenvolver as competências sociais por isso naturalmente poderão existir altos e baixos neste processo. Desde que a timidez não represente uma ameaça à socialização e ao bem-estar da criança, até poderemos ressaltar algumas qualidades valiosas associadas à timidez, como por exemplo:

    - maior sensibilidade ao mundo emocional do outro, maior empatia;

    - capacidade de observação e escuta apurada;

    - tendência para relacionamentos  mais profundos e duradouros.

    Quando em excesso, pode dificultar o desenvolvimento da criança, podendo causar:

    - isolamento social;

    - menor participação em atividades escolares e de lazer;

    - dificuldades de aprendizagem;

    - desenvolvimento de ansiedade social.


Alguns sinais de timidez excessiva:

  • Recusa em participar de atividades sociais ou brincadeiras com outras crianças;
  • Dificuldade em iniciar conversas ou interagir com pessoas desconhecidas;
  • Falta de confiança para se expressar em público ou apresentar trabalhos escolares;
  • Preocupação excessiva com a opinião dos outros e medo de julgamento;
  • Isolamento social e preferência por atividades solitárias. 

O objetivo não deve ser "curar" a timidez, mas sim ajudar a criança a desenvolver confiança e competências para navegar o mundo social.


    Estratégias de apoio eficazes: 

   Aceitar e validar: O primeiro passo é aceitar a personalidade da criança sem tentar forçar mudanças drásticas. Validar os seus sentimentos e mostrar compreensão pode aumentar a sua autoestima e confiança;

    - Exposição gradual: Introduzir gradualmente situações sociais, começando por ambientes familiares e grupos pequenos, pode ajudar a criança a desenvolver confiança progressivamente;

    - Modelar comportamentos sociais: As crianças aprendem muito através da observação. Demonstrar interações sociais positivas e ensinar competências sociais específicas pode ser extremamente útil;

    - Evitar rótulos: Evitar descrever a criança como "tímida" na sua presença pode prevenir que ela internalize esta característica como uma limitação permanente.



A timidez na infância é uma característica que requer compreensão, paciência e apoio adequado. Com estratégias apropriadas e um ambiente de apoio, crianças tímidas podem desenvolver competências sociais sólidas enquanto mantêm as suas qualidades únicas.


Na era digital, é importante considerar como a tecnologia pode afetar a socialização das crianças tímidas. Embora as plataformas digitais possam oferecer formas alternativas de comunicação que algumas crianças acham menos intimidantes, é essencial equilibrar o tempo online com interações presenciais.

As competências sociais desenvolvem-se melhor através de interações face a face, onde as crianças podem aprender a interpretar linguagem corporal, tons de voz e outras pistas sociais subtis.


Se a timidez da criança interfere significativamente com o seu funcionamento diário, aprendizagem ou bem-estar emocional, pode ser benéfico consultar um/a psicólogo/a infantil.

Sinais de alerta incluem ansiedade extrema em situações sociais, recusa persistente em ir à escola, isolamento completo de pares ou sintomas físicos como dores de cabeça ou problemas de sono relacionados com situações sociais.



quinta-feira, 22 de maio de 2025

4 P's para criar um Apego Seguro

     Depois de ler os artigos anteriores acerca dos estilos de apego é impossível continuar a pensar que as crianças enquanto são pequenas não percebem nada do que acontece ao seu redor ou que não se lembrarão de nada quando crescerem! Anos e anos de estudos científicos o comprovam!

    Apesar de, em muitas situações, não possuírem memória declarativa sobre certos acontecimentos da sua infância, as memórias implícitas estão lá para lembrar o cérebro das suas experiências de vida e da necessidade ou não de se proteger e afetam a forma como se comporta e se relaciona!

 

A verdade é que tudo o que acontece na infância não fica na infância! 



Assim, para a criação de um apego seguro podemos nos inspirar nos 4 P's:

1.  Proximidade (presença de qualidade, conexão)

2.  Proteção (os pais são agentes de segurança e cuidam dos filhos)

3. Previsibilidade (os pais são estáveis e conseguem dar um nível de previsibilidade nos cuidados e nas rotinas)

4. Play (BRINCAR, é uma necessidade básica das crianças, um pilar no desenvolvimento socioemocional)


Não precisamos de ser pais perfeitos, mas sim pais presentes e conscientes!


É importante ressaltar que o apego é algo evolutivo e pode mudar ao longo da vida, podendo até ser situacional. E em qualquer idade é possível criar um apego seguro.


Se este tema suscitou maior curiosidade ou se se identificou com algum tipo de apego inseguro, saiba que pode, com ajuda terapêutica, desenvolver maior segurança nos seus relacionamentos, inclusive no seu consigo próprio. 

Apego evitativo e Apego Desorganizado

 Apego evitativo



  • O Cuidador:

    Minimiza, ignora ou até pune os sinais emocionais da criança em momentos que a criança precisava da sua ajuda, desencorajando a expressão das suas necessidades e fazendo com que ela evite procurá-lo novamente no futuro ("É preciso chorar por causa disso?" "Continuas a chorar e vais ficar de castigo").

    O cuidador até pode estar presente, mas é uma presença muito baseada em tarefas, dependente de algumas condições, como por exemplo, só recebe o mínimo de atenção desde que se comporte "bem".

 

  • Características

    Na infância a criança...

    - parece uma criança muito autónoma e resolvida (às vezes precocemente);

   - pode ignorar ou evitar os pais, não mostrando preferência entre eles e desconhecidos, e pode parecer indiferente em momentos de necessidade;

    - evita a proximidade emocional e a dependência dos pais;

    - reprime as emoções e pode ter dificuldades em expressar vulnerabilidade;

    - dificuldade de expressão facial coerente com a vivência emocional;

    - pode ter dificuldade em confiar nos outros e desconfiar das intenções alheias;

  - pode se tornar defensiva quando abordada sobre os seus sentimentos ou relacionamentos;

      - pode ter dificuldades em formar vínculos emocionais profundos e duradouros. 

 

Em adulto:

    - muito independentes e autossuficientes (excessivamente);

    - tendência a se sobrecarregar com trabalho e sobrevalorizar a carreira;

    - dificuldade em reconhecer as suas próprias necessidades emocionais e pessoais;

    - recusam a aprofundar os relacionamentos por medo de se “prender” a alguém;

    - podem querer se relacionar profundamente com outras pessoas mas sentem um grande desconforto pelo medo de serem magoados;

    - têm grande dificuldade de expressar os seus sentimentos;

    - valorizam os bens materiais em detrimento dos relacionamentos;

    - procuram frequentemente o isolamento ou atividades mais solitárias (e assim se desligam da conexão com o outro...);

    - frequentemente há dificuldade no contacto visual;

    - tendência a ser mais analíticos;

    - soft skills habitualmente pouco desenvolvidas;

    - quando há qualquer mínimo desconforto nos relacionamentos, desconecta-se.

 


                                            Apego desorganizado


  • O Cuidador:

    Pode agir de forma incoerente, confusa e/ou assustadora. Pratica alguma forma de violência, recorre frequentemente à ameaça, impedindo a criança de construir uma base de segurança mínima. Há habitualmente um padrão inconsistente de cuidados, sendo os cuidadores fonte de medo.

 

  • Características

     Na infância a criança...

    - apresenta uma mistura confusa e contraditória de comportamentos, como evitação e busca por contacto do cuidador, porque há a necessidade de apego mas simultaneamente a criança está num funcionamento de sobrevivência onde precisa de se proteger pois aprendeu que não pode confiar no outro para que isso aconteça;

  - tende à desregulação emocional e comportamental, alternando entre explosões emocionais ou uma completa apatia;

    - pode exibir comportamentos de oposição, hostilidade ou agressão;

    - tem muita dificuldade nos processos de socialização e em confiar nas pessoas;

    -  costuma ter sentimentos de inferioridade, manifestados em comportamentos de timidez e medo (incluindo medo intenso de falhar);

     - sentem desconforto no contacto físico, particularmente com os adultos;

     - a tristeza, a indiferença e a irritação estão frequentemente expressas no seu rosto;

      - apresentam graves problemas de atenção e concentração;

    - oscila facilmente entre as características de apego evitativo e ansioso, de uma forma mais acentuada;

      - com frequência reúne critérios diagnósticos para perturbação de ansiedade, depressão e perturbação de comportamento e/ou conduta.

              

Em adultos:

(com maior ou menor expressividade)

    - frequentemente envolvem-se em comportamentos ou situações de alto risco;

    - frequentemente entram em relação abusivas (não conheceram outro padrão);

    - mudanças inesperadas de humor;

    - comportamento egoísta e controlador (numa busca por previsibilidade e segurança);

    - dificuldade em se conectar com relações saudáveis;

    - forte tendência à impulsividade, agressividade e conflitos;

    - esforço por se sentir seguro na relação com o/a parceiro/a amoroso/a, mesmo quando sabe que é alguém altamente confiável;

    - bloqueios de memória de períodos ou eventos importantes;

    - sente que vai sempre falhar ou é incapaz de resolver problemas.

 



 

 

 

 

Estilos de Apego Inseguro: O Apego Ansioso


“Quando bebés, precisamos dos nossos pais (ou cuidadores) para sobreviver; não temos escolha em relação a isso. Nós adaptamo-nos de acordo com as suas capacidades ou à falta delas. Respondemos e crescemos de acordo com aquilo que funciona ou que não funciona no nosso contexto de cuidado.

Não importa qual o estilo de apego que incorporamos, eu penso que o facto de nos adaptarmos da melhor forma que podemos é digno de respeito e valor, e em algum nível digno de admiração pelo dilema que cada criança vive.

No melhor dos cenários, vivemos e crescemos numa família abençoada com o apego seguro. Se não, não temos escolha a não ser nos adaptarmos às limitações dos nossos cuidadores e nos adaptarmos da melhor forma possível para manter a nutrição das nossas necessidades de apego, mesmo que isso signifique, paradoxalmente, nos desligarmos da nossa necessidade de conexão.”

Diane Poole Heller




   Os apegos considerados “inseguros” são também conhecidos como apegos adaptativos, uma vez que eles surgem da necessidade da criança se adaptar ao meio, quando as contingências não são favoráveis ao seu desenvolvimento saudável.

        Assim, poderão desenvolver um dos 3 tipos de Apego Inseguro, sobre os quais faremos  uma breve  análise do cuidador, características que se evidenciam na infância e nos adultos (neste e próximo artigo).



Apego Ansioso

  • O Cuidador:

    Os seus cuidados oscilam entre sobreproteção e negligência, levando a criança a sentir que nunca sabe o que pode esperar, se pode ou não desenvolver confiança nos relacionamentos.

 

  • Características:

    - na infância a criança...

   - demonstra uma intensa necessidade de proximidade do cuidador e sente uma grande angústia e ansiedade na separação do mesmo quando este não está presente;

    - tem dificuldade em se acalmar após o reencontro;

    - Para garantir a presença e a atenção do cuidador, as crianças com apego ansioso podem apresentar comportamentos como chorar, agarrar-se, gritar ou tentar controlar a situação;

    - apresenta um padrão de desconfiança de estranhos;

  - pode ter dificuldade em lidar com a frustração, reagindo de forma exagerada ou emocionalmente instável. 

 

    Em adulto:

   - dificuldade em estabelecer relacionamentos saudáveis, sentindo-se inseguro e com medo de serem abandonado;

    - a pessoa deseja proximidade com a pessoa alvo do seu apego (amigo/a, namorado/a,  etc), mas ao mesmo tempo mantém sentimentos de resistência, como raiva e necessidade de punir o outro;

    - sensação permanente de ter de se preparar para o que pode vir a correr mal;

    - hiperfoco no outro, podendo levar a uma dinâmica de dependência emocional;

    - dificuldade em dizer “não”, em colocar limites;

    - tem medo de desagradar e por isso tenta sempre encaixar no mundo do outro, perdendo-se de si próprio/a (baixa autoconsciência e autoconceito);

  - elevada sensibilidade à percepção de rejeição/abandono, podendo se tornar facilmente ciumentos e desconfiados;

   - manifestação de choro fácil, um padrão de reclamação persistente e até chamar à atenção por adoecimento físico para se sentir ouvido ou visto;

    - vive num paradoxo entre a necessidade de conexão e a crença de que nunca será possível;

    - necessita de atos de reafirmação de segurança (envio de sms ao longo do dia, telefonemas, etc);

   - tendência a minimizar as tentativas de conexão, podendo por vezes desenvolver até formas de as sabotar, pelo medo de sofrer (dissonância cognitiva).

        

        Ao perpetuar estes comportamentos disfuncionais a pessoa acaba por afastar as pessoas de si, confirmando o seu medo de abandono. Isto reforça o ciclo, pautado por muita angústia.

 









quarta-feira, 21 de maio de 2025

Apego Seguro

 

Apego Seguro

“Se queremos uma criança independente e autoconfiante, teremos que tentar estabelecer um relacionamento seguro com ela. Isso significa estar presente e disponível, 
compreender e responder às suas necessidades como tal.”

-Mariel Bonnefon-





Neste tipo de apego...

  • O Cuidador:

    Reage de forma consistente, rápida e amorosa. Responde às necessidades da criança, criando um ambiente seguro e estável, comunica de forma clara e eficaz, incentiva a autonomia e independência da criança e cria oportunidades para a criança interagir com os outros de forma saudável e aprender a lidar com as emoções.

 

  • Características:

      Na infância a criança...

     - sente-se tranquila para explorar novas situações e desenvolver competências;

     - não teme novidades porque sente que tem sempre alguém para ajudar;

     - sente e demonstra a falta do cuidador. Procura e alegra-se com o seu reencontro;

     - inicia e procura o contato físico;

     - tem os limites bem definidos;

     - tem boas competências sociais;

    - tem uma boa neurocepção de segurança (não está sempre à procura do perigo, tem uma boa noção de segurança e quando não é seguro ela consegue identificar)

      - demonstra congruência entre o que pensa, sente e faz.

    Naturalmente, ao longo do desenvolvimento procuram suporte quando é preciso e vão oferecê-lo também, porque trazem isso na sua bagagem emocional de forma bem estabelecida, como algo natural.

 

    Em adultos:

    - sabem equilibrar a sua necessidade de independência com a necessidade de intimidade e proximidade nos seus relacionamentos - conectam-se com as outras pessoas de forma saudável;

    - conseguem pensar com flexibilidade;

    - têm uma visão positiva de si mesmos e dos outros, o que contribui para relacionamentos mais saudáveis e equilibrados;

    - percebem as diferentes possibilidades e estão confortáveis com as diferenças no contacto com os outros;

    - são resolutivos na forma como lidam com os seus conflitos;

    - expressam os seus sentimentos e necessidades de forma clara e honesta;

    - são pessoas resilientes.


domingo, 18 de maio de 2025

A Neurobiologia do Apego

 





        O ser humano quando nasce é totalmente dependente dos cuidadores! Daí vem a necessidade de se vincular. Este vínculo aos cuidadores primários designa-se de apego, constitui um imperativo biológico nos primeiros estágios de vida e marca a saúde mental ao longo da vida.

    Nesta interação com os cuidadores, sobretudo nos primeiros 3 anos de vida, desencadeiam-se vários processos e desenvolvem-se conexões entre os sistemas neurais, hormonais e comportamentais.

        🧠 Bases neurais do Apego:

- sistema límbico: centro das emoções, onde o hipocampo e a amígdala processam memórias emocionais e respostas ao stress relacionadas ao apego;

- córtex pré-frontal: responsável pela regulação emocional, atenção e concentração, memória de trabalho, flexibilidade cognitiva e tomada de decisões nos relacionamentos;

- circuito de recompensa: o sistema dopaminérgico cria sensações prazerosas durante interações positivas com figuras de apego, reforçando os comportamentos de busca por proximidade e cuidado.

        🧠 Neurotransmissores e hormonas:

- ocitocina: facilita a vinculação e confiança;

- vasopressina: contribui para comportamentos de apego, especialmente em vínculos afetivos de longo prazo;

- cortisol: hormona do stress, que se eleva durante a separação das figuras de apego;

- endorfinas: geram a sensação de bem-estar durante o contacto com as figuras de apego.

        

Deste modo, a neurobiologia do apego vem confirmar a profunda relação entre as experiências de apego, o funcionamento cerebral e a saúde mental. Padrões de apego inseguros, podem ter consequências negativas na saúde mental, como perturbação de ansiedade, depressão e até dificuldades nos relacionamentos ao longo da vida, uma vez que os apegos criados posteriormente (sejam amigos ou parceiros amorosos), reutilizam o mecanismo básico estabelecido pelo vínculo inicial com os cuidadores primários durante a infância. 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

"Ninguém me ouve...Ninguém me entende!" - Adolescência e Obstáculos ao bom diálogo

 


No caminho para a independência, muitos erros se cometem pelo caminho e é expectável que assim seja! 

Embora se pense que os adolescentes não querem conversar com os pais, tal dependerá muito mais da relação que têm com estes e da forma como se sentem acolhidos e respeitados neste seu processo, que muitas ansiedades gera! 

O diálogo é essencial! Mas os jovens não querem que lhes digamos como pensar. querem quem os escutem! A tentação, enquanto pais, e porque queremos o melhor para os nossos filhos é analisar, corrigir, aconselhar... É quando se ouve o desabafo do adolescente "Ninguém me ouve, ninguém me entende...!". E a verdade é que não está a mentir, está a comunicar o que sente. 

A intenção dos pais pode ser a mais positiva do mundo mas, inconscientemente, o que o jovem interpreta é algo bem diferente! 

Deixamos o seguinte exemplo: na tentativa de proteger o adolescente de um problema, os pais tentam distraí-lo afirmando algo do género "Pensa agora em coisas boas..." "Não penses nisso agora, vamos falar de outra coisa..." "Isso já passa" "Não é assim tão mau". A mensagem que o adolescente grava é "não acredito que consigas lidar com esta situação." ou "O que sentes não faz sentido". Resultado: o adolescente sente-se invalidado e desvalorizado. 


A nossa recomendação?

Primeiro ouça. Entretanto, se não controlar o impulso de ter de dizer algo, pergunte "Queres saber o que eu faria nessa situação?". Se a resposta for positiva, esta pode ser uma opção à participação nas reflexões dos adolescentes de uma forma menos invasiva.

Lembre-se:

A adolescência é uma idade em que qualquer resistência ou contradição do adulto pode ser considerada ofensiva. Um bom diálogo significa conversar com a pessoa e não para ela! 







domingo, 26 de janeiro de 2025

Por falar em desafios: a criança desobediente.

De tempos a tempos, a maioria das crianças desafia os desejos dos pais. Isto faz parte do crescimento e do teste aos limites e expectativas dos adultos. É uma das formas das crianças aprenderem e descobrirem sobre si próprias, expressarem a sua individualidade e alcançarem um sentido de autonomia. À medida que experimentam as suas asas independentes e se envolvem em pequenos conflitos com os pais, descobrem os limites das regras parentais e do seu próprio autocontrolo.

No entanto, por vezes, estes conflitos são mais do que perturbações ocasionais e tornam-se num padrão de interação entre pais e filhos. A desobediência pode ter várias causas. Por vezes, deve-se a expectativas parentais irrealistas. Ou pode estar relacionada com o temperamento da criança, problemas escolares, stress familiar ou conflitos entre os pais.


O que os pais podem fazer

Quando tem uma criança cronicamente desobediente, examine as possíveis fontes da sua inquietação interior e rebeldia. Se este tem sido um padrão persistente que continuou até à idade escolar, avalie atentamente a sua situação familiar:

  1. Quanto respeito demonstram os membros da família uns pelos outros?
  2. Respeitam a privacidade, as ideias e os valores pessoais uns dos outros?
  3. Como é que a família resolve os seus conflitos?
  4. As divergências são resolvidas através de discussão racional, ou as pessoas discutem regularmente ou recorrem à violência?
  5. Qual é o seu estilo habitual de relacionamento com o seu filho, e que formas assume geralmente a disciplina?
  6. Qual a frequência de palmadas e gritos?
  7. Você e o seu filho têm personalidades e formas de estar no mundo muito diferentes que causam fricção entre vocês?
  8. O seu filho está a ter dificuldades em ter sucesso na escola ou em desenvolver amizades?
  9. A família está a passar por momentos particularmente stressantes?

Se o seu filho só recentemente começou a demonstrar falta de respeito e desobediência, diga-lhe que notou uma diferença no seu comportamento e que sente que ele está infeliz ou em dificuldades. Com a sua ajuda, tente determinar a causa específica da sua frustração ou perturbação. Este é o primeiro passo para o ajudar a mudar o seu comportamento.

A sua reação é importante

Se reagir às respostas do seu filho explodindo ou perdendo a calma, ele responderá com desobediência e falta de respeito. Pelo contrário, ele tornar-se-á mais obediente quando se mantiver calmo, cooperante e consistente. Ele aprenderá a ser respeitador se você for respeitador para com ele e os outros membros da família. Se ele se tornar desobediente e perder o controlo, imponha um tempo de pausa até que se acalme e recupere o autocontrolo.

Quando o seu filho é obediente e respeitador, elogie-o por esse comportamento. Recompense o comportamento que procura, incluindo a cooperação e a resolução de desacordos. Estes esforços positivos serão sempre muito mais bem-sucedidos do que a punição.


Quando procurar ajuda adicional

Para algumas crianças desobedientes, poderá ser necessário obter tratamento profissional de saúde mental - Psicologia Infantil numa primeira abordagem, acompanhada ou não de Pedopsiquiatria. Eis algumas situações em que o aconselhamento externo pode ser necessário:

  1. Se existir um padrão persistente e prolongado de desrespeito pela autoridade tanto na escola como em casa
  2. Se os padrões de desobediência continuarem apesar dos seus melhores esforços para encorajar o seu filho a comunicar os seus sentimentos negativos
  3. Se a desobediência e/ou falta de respeito de uma criança for acompanhada por agressividade e destruição
  4. Se uma criança mostrar sinais de infelicidade generalizada -- talvez falando em sentir- se em baixo, mal-amada, sem amigos ou até com pensamentos suicidas
  5. Se a sua família desenvolveu um padrão de resposta aos desacordos com abuso físico ou emocional
  6. Se você, o seu cônjuge ou filho usam álcool ou outras drogas para se sentirem melhor ou lidarem com o stress
  7. Se as relações dentro da sua família mostrarem sinais de dificuldade e falta de cooperação, então a terapia familiar pode estar indicada. 

Ao lidar com e resolver estes problemas numa idade jovem, pode minimizar e até prevenir lutas mais sérias que possam surgir quando os seus filhos alcançarem a adolescência. 

A chave é a identificação e o tratamento precoces!

sábado, 21 de dezembro de 2024

Natal, Prendas e Comportamento. Qual a relação?

"Se te portas mal o Pai Natal não te traz presentes..."
"Olha que o Pai Natal vê tudo o que tu fazes..."
"Se não tirares boas notas diz adeus à prenda que pediste no Natal..."



Afirmações destas são comuns nas mais diversas conversas, seja em ambiente familiar, em locais públicos, nas salas de aula…. Valem uma boa reflexão tal é a angústia que muitas crianças e até os próprios pais sentem com o peso destas palavras!

Podemos colocar várias questões:

  • Porquê utilizar o Natal como recompensa ou castigo se não o é? Qual é afinal o verdadeiro espírito de Natal? O Natal é uma festa da família independentemente de tudo o que possa acontecer na nossa vida. Natal é amor, é família, é conexão, harmonia, é celebração!!! Valores mais altos se erguem do que um comportamento desadequado ou uma baixa nota escolar.
  • Por falar em notas escolares.... Será legítimo punir uma criança nos presentes de Natal se as verdadeiras causas do insucesso escolar residem na falta de motivação, gestão de tempo, gestão emocional, fatores do contexto, entre outras? Há vida para além da escola!
  • Porquê fazer ameaças às crianças se na maior parte das vezes não se cumpre? Ou os adultos passam por mentirosos ou entram em absoluto descrédito porque "falam, falam, falam e depois não é nada!"
  • Compreendendo e aceitando a importância de passar à criança a noção de consequência, não deverá esta estar diretamente associada ao comportamento em si? Além disso, refletir e investir nas soluções sempre dá mais resultado do que focar nos problemas! Porquê apenas punir e não incentivar? No final das contas, nós queremos que os nossos filhos aprendam conquistando experiência de vida e desenvolvendo consciência e não que se sintam castigados e mal-amados por atos que muitas vezes nem eles próprios ainda têm maturidade para compreender e controlar!
  • Mesmo que as crianças nem sempre tenham comportamentos "adequados" (e isto daria uma bela outra conversa!) também têm comportamentos maravilhosos e são maravilhosas!

Para quê complicar?

Natal é conexão ❤️

O luto na infância - como lidar de forma consciente

A parentalidade consciente convida-nos a estar verdadeiramente presentes e acolher as emoções das crianças com empatia e autenticidade. No l...