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domingo, 5 de outubro de 2025

BRONQUIOLITE: O QUE OS PAIS PRECISAM DE SABER

 A bronquiolite é uma das principais causas de hospitalização em bebés durante o outono e inverno. Conhecer os sinais e saber como agir pode fazer toda a diferença para ajudar o vosso filho a recuperar bem.

O que é a Bronquiolite?

É uma infeção viral que afeta os bronquíolos (pequenos canais de ar nos pulmões), causando inflamação, inchaço e acumulação de muco que dificultam a respiração, especialmente nos mais pequenos.

Principal agente:

Vírus Sincicial Respiratório (VSR) em 70-80% dos casos. Outros agentes: rinovírus, adenovírus, vírus da gripe.

Maior risco:

Bebés com menos de 6 meses
Prematuros
Doenças cardíacas ou pulmonares crónicas
Sistema imunitário enfraquecido

Exposição ao fumo do tabaco

Como reconhecer a Bronquiolite?

Começa como uma constipação e evolui em 2-3 dias:

Sintomas iniciais:

Corrimento nasal, tosse ligeira, febre baixa (nem sempre) 

Evolução (dias 3-5):

Tosse frequente e intensa
Respiração rápida e superficial
Pieira (som agudo tipo 'assobio')
Tiragem (afundamento do peito entre costelas)
Dificuldade em mamar/comer
Irritabilidade e sono agitado

Sinais de alarme - Procurar urgência:

Lábios ou unhas azulados
Pausas respiratórias (apneia)
Recusa alimentar
Sonolência excessiva
Respiração muito rápida (>60/minuto no bebé)
Gemido ao respirar

Desidratação: boca seca, sem lágrimas, <4 fraldas molhadas/dia

Diagnóstico e Tratamento

Diagnóstico:

Essencialmente clínico (história e observação). Casos graves podem necessitar radiografia, teste viral ou oximetria.

Tratamento de suporte (antibióticos NÃO funcionam):

Em casa:

Hidratação frequente
Cabeça elevada 30o
Ambiente húmido
Limpeza nasal com soro antes de comer/dormir
Refeições pequenas e frequentes

Repouso

No hospital (casos graves):

Oxigénio suplementar
Hidratação endovenosa
Monitorização contínua

Aspiração de secreções

Não fazer:

Medicamentos para tosse sem indicação médica
Vaporizações não recomendadas
Fumar perto da criança

Suspender amamentação

Prevenção: como proteger o seu bebé?

Medidas gerais:

Lavagem de mãos
Evitar multidões no inverno
Ambiente sem fumo
Amamentação
Limpeza de brinquedos

Evitar contacto com doentes


VACINAÇÃO ANTI-VSR: A GRANDE NOVIDADE!

Desde 2024, Portugal dispõe do nirsevimab (Beyfortus®), anticorpo monoclonal que oferece proteção durante toda a época VSR.

Não é vacina tradicional, mas anticorpo que confere imunidade passiva imediata e prolongada.

A quem se destina:

Todos os RN e lactentes no 1o ano

Até 24 meses com fatores de risco

Quando:

Nascidos outubro-março: logo após nascimento
Nascidos fora época: antes início circulação vírus

Dose única

Eficácia comprovada:

70-80% redução hospitalizações
75% redução formas graves

Proteção ~5 meses (época completa)

No PNV desde setembro 2024 - GRATUITA!

Evolução habitual

Dias 1-3: início, tipo constipação

Dias 3-5: pico sintomas respiratórios
Dias 5-7: melhoria gradual

Semanas 2-4: resolução (tosse pode persistir)

2-3% necessitam internamento, especialmente <3 meses.

Cuidar em Casa - Dicas Práticas

Hidratação:

Líquidos frequentes (leite materno/fórmula/água). Mamadas mais curtas e frequentes se necessário.

Alimentação:

Pequenas refeições, não forçar, privilegiar líquidos se difícil comer sólidos.

Respiração:

Lavar nariz com soro antes refeições/sono, elevar cabeceira, ar húmido, evitar fumo/irritantes.

Monitorizar:

Frequência respiratória, cor lábios, fraldas molhadas, estado alerta.

Febre:

Paracetamol se desconforto (sob orientação), não agasalhar demais.

Bronquiolite vs. Asma

São condições diferentes que importa distinguir:

Bronquiolite:

É o primeiro episódio de doença respiratória com pieira, sibilância e dificuldade respiratória na infância, provocado por infeção viral. Antes da vacina anti-VSR, era causada maioritariamente pelo Vírus Sincicial Respiratório. Trata-se de um episódio agudo que, na maioria dos casos, não se repete.

Asma infantil:

Refere-se a episódios recorrentes de tosse, sibilância/pieira e dificuldade respiratória, de qualquer causa. O diagnóstico de asma pressupõe pelo menos 3 episódios em 12 meses. É uma doença crónica inflamatória das vias aéreas que requer acompanhamento e tratamento específico.

Relação entre ambas:

Alguns bebés que tiveram bronquiolite podem desenvolver episódios recorrentes de pieira posteriormente. Uma percentagem destes evolui para asma, mas a maioria não.

O acompanhamento pediátrico regular permite identificar precocemente quem beneficia de vigilância mais apertada e tratamento específico.

Conclusão

A bronquiolite é comum e a maioria das crianças supera sem complicações. O essencial é reconhecer os sinais precocemente, saber quando procurar ajuda médica, manter a calma e cuidar com amor.

O nirsevimab representa um avanço significativo na proteção dos bebés contra formas graves de bronquiolite. Fale com o pediatra sobre esta e outras formas de manter o vosso filho saudável.

Partilhem:


JÁ VIVERAM UMA SITUAÇÃO DE BRONQUIOLITE? TÊM DÚVIDAS SOBRE A VACINA ANTI-VSR? OS VOSSOS COMENTÁRIOS AJUDAM-NOS A CRIAR CONTEÚDOS ÚTEIS PARA TODA A COMUNIDADE.



Referências

Direção-Geral da Saúde - Orientações Bronquiolite Sociedade Portuguesa de Pediatria
American Academy of Pediatrics - Clinical Practice Guideline Programa Nacional de Vacinação 2024 

domingo, 17 de agosto de 2025

OTITE MÉDIA AGUDA: UM GUIA COMPLETO PARA PAIS E CUIDADORES

A otite média aguda (OMA) é uma das infeções mais comuns na infância e uma das principais causas de consultas pediátricas urgentes. Cerca de 90% das crianças terão pelo menos um episódio antes dos 3 anos de idade, sendo particularmente frequente entre os 6 meses e os 2 anos. Para muitos pais, o choro inconsolável de uma criança pequena durante a noite, especialmente após um resfriado, pode ser o primeiro sinal desta dolorosa condição. A otite média aguda não é apenas "uma dor de ouvidos" – é uma infeção bacteriana ou viral do ouvido médio que pode causar dor intensa, febre e, se não tratada adequadamente, complicações graves. Compreender os seus sinais, fatores de risco e opções de tratamento é fundamental para que os pais possam agir rapidamente e proporcionar alívio aos seus filhos.

O QUE É A OTITE MÉDIA AGUDA? 

Anatomia do Ouvido

Para compreender a otite média aguda, é importante conhecer a anatomia básica do ouvido. O ouvido divide-se em três partes:

  • Ouvido externo: inclui o pavilhão auricular e o canal auditivo
  • Ouvido médio: cavidade atrás do tímpano, contendo os pequenos ossos da audição
  • Ouvido interno: responsável pela audição e equilíbrio

A Trompa de Eustáquio: a Peça-Chave

A trompa de Eustáquio é um pequeno canal que liga o ouvido médio à parte posterior do nariz e garganta. A sua função é:

  • Equalizar a pressão entre o ouvido médio e o ambiente externo
  • Drenar secreções do ouvido médio
  • Proteger o ouvido médio de infeções

Nas crianças pequenas, a trompa de Eustáquio é:

  • Mais curta (apenas 1-2 cm vs. 3-4 cm nos adultos)
  • Mais horizontal
  • Mais estreita
  • Menos rígida

Estas características anatómicas fazem com que a trompa se obstrua mais facilmente, criando condições ideais para o desenvolvimento de infeções.


COMO SE DESENVOLVE A OTITE MÉDIA AGUDA? 

O Processo em 4 Etapas
  1. Infeção respiratória inicial: Vírus (rinovírus, vírus sincicial respiratório, influenza) infetam o nariz e garganta
  2. Inflamação e obstrução: A mucosa da trompa de Eustáquio inflama e obstrui
  3. Acumulação de secreções: Fluidos ficam "presos" no ouvido médio
  4. Sobreinfeção bacteriana: Bactérias multiplicam-se no fluido estagnado

Principais Agentes Causadores

Bactérias (60-70% dos casos):

  • Streptococcus pneumoniae (30-40%)
  • Haemophilus influenzae (20-25%)
  • Moraxella catarrhalis (10-15%)
Vírus (30-40% dos casos):
  • Vírus sincicial respiratório (VSR)
  • Rinovírus
  • Vírus da gripe
  • Adenovírus

SINAIS E SINTOMAS: COMO RECONHECER? 

Em Lactentes (< 2 anos)
  1. Choro intenso e inconsolável, especialmente à noite
  2. Irritabilidade extrema
  3. Febre (frequentemente > 38,5°C)
  4. Dificuldade em adormecer ou despertares frequentes
  5. Recusa alimentar ou dificuldade na sucção
  6. Puxar ou esfregar a orelha repetidamente 
  • Outros sinais:

    • Vómitos ou diarreia (por deglutição de secreções)
    • Perda de equilíbrio ao gatinhar ou andar
    • Corrimento do ouvido (se houver perfuração timpânica)
Em Crianças Maiores (> 2 anos)
  1. "Dói-me o ouvido" - dor latejante, intensa
  2. Sensação de ouvido "tapado"
  3. Diminuição da audição temporária
  4. Zumbidos no ouvido

            Sinais de Alarme: Quando Procurar Ajuda Urgente!

    1. Febre persistente > 39°C por mais de 48 horas
    2. Corrimento purulento do ouvido (possível perfuração timpânica)
    3. Inchaço ou vermelhidão atrás da orelha (possível mastoidite)
    4. Rigidez do pescoço
    5. Convulsões
    6. Alterações do estado de consciência
    7. Paralisia facial
FATORES DE RISCO:
Fatores Não-Modificáveis
  • Idade: 6 meses a 2 anos (pico de incidência)
  • Sexo masculino: risco 20% superior
  • Genética: antecedentes familiares de otites recorrentes
  • Prematuridade
Fatores Ambientais Modificáveis
  • Exposição ao fumo do tabaco (risco 2-3x maior)
  • Frequência de creche (risco 2-4x maior)
  • Época do ano: outono/inverno
  • Poluição atmosférica
  • Alergias respiratórias

Fatores Nutricionais e Sociais

  • Ausência de aleitamento materno
  • Uso prolongado da chupeta (> 12 meses)
  • Posição para mamar (horizontal aumenta risco)
  • Sobrelotação habitacional
  • Nível socioeconómico baixo

DIAGNÓSTICO: COMO O MÉDICO CONFIRMA?

Critérios diagnósticos (devem estar presentes):
  • Início súbito dos sintomas
  • Sinais de inflamação no ouvido médio 
  • Efusão (líquido) no ouvido médio

Diagnóstico Diferencial
O médico deve distinguir a OMA de:
  • Otite média serosa (sem infeção ativa)
  • Otite externa (infeção do canal auditivo)
  • Dor de ouvidos reflexa (amigdalite, problemas dentários)
  • Corpo estranho no ouvido

TRATAMENTO: ABORDAGEM MODERNA E BASEADA EM EVIDÊNCIA 

Estratégia de "Vigilância Ativa" vs. Antibióticos Imediatos
A decisão de tratar com antibióticos depende de:

Critérios para início de  tratamento com antibiótico:
  • Idade < 6 meses (tratar sempre!)
  • Idade 6-24 meses com doença bilateral
  • Qualquer idade com:
    • Otorreia (corrimento do ouvido)
    • Critérios de gravidade(febre ≥ 39°C, dor intensa)
    • Sinais de complicações

Critérios para Vigilância Ativa (48-72h)
  • Idade > 2 anos com doença unilateral ligeira
  • Ausência de sintomas sistémicos graves
  • Pais capazes de monitorizar adequadamente
  • Fácil acesso a cuidados médicos

Antibióticos de Primeira Linha

Amoxicilina (primeira escolha):

  • Dose: 80-90 mg/kg/dia, dividida em 2-3 tomas
  • Duração: 7 a 10 dias
  • Vantagens: eficaz, segura, bem tolerada, baixo custo

Amoxicilina + Ácido Clavulânico (se falência terapêutica):
  • Indicada se não melhoria em 48-72h
  • Cobre bactérias produtoras de beta-lactamase

Alternativas (se alergia à penicilina):

  • Cefuroxima
  • Azitromicina
  • Claritromicina

Tratamento Sintomático: Alívio da Dor Analgésicos/Antipiréticos

  • Paracetamol: 10-20mg/kg/dose, 6/6h
  • Ibuprofeno: 5-10 mg/kg/dose, 8/8h
  • Calor local: compressa morna (não quente!)
  • Posição: elevar ligeiramente a cabeça para dormir
  • Hidratação adequada
  • Ambiente calmo
  • “NÃO!”:

    • Gotas auriculares ou Antibióticos sem prescrição
    • Aspirina em crianças (risco de síndrome de Reye)

COMPLICAÇÕES: QUANDO AS COISAS CORREM MAL 

Complicações Frequentes (1-5%)

  • Perfuração timpânica: geralmente cicatriza espontaneamente
  • Otite média recorrente: ≥ 3 episódios em 6 meses ou ≥ 4 episódios em 12 meses

Complicações Graves (< 1%)
  • Mastoidite: infeção do osso mastoide
  • Meningite: infeção das meninges que envolvem o cérebro
  • Abcesso cerebral: acumulação de pus numa área delimitada no cérebro
  • Trombose dos seios venosos: coágulo nas veias cerebrais
  • Paralisia facial: lesão do nervo facial com paralisia dos músculos da face

Complicações a Longo Prazo
  • Perda auditiva permanente: rara, mas possível
  • Atraso na linguagem: se otites recorrentes
  • Colesteatoma: crescimento anormal de pele no ouvido médio

PREVENÇÃO: ESTRATÉGIAS EFICAZES 

  • Aleitamento materno exclusivo até 6 meses
  • Evitar exposição ao fumo do tabaco
  • Reduzir o uso da chupeta após 12 meses
  • Posição vertical durante e após as refeições
  • Higiene das mãos rigorosa
  • Vacinação completa (PCV20, VSR, Hib, Influenza) 
  • Controlo da rinite alérgica e da asma
  • Evitar alergénios conhecidos

Quando Considerar Adenoidectomia*
  1. Hipertrofia adenoideia obstrutiva
  2. Otites médias recorrentes refratárias
  3. Apneia obstrutiva do sono

E Tubos de Ventilação (Drenagem Transtimpânica)?*
  1. ≥ 3 episódios de OMA em 6 meses
  2. ≥ 4 episódios em 12 meses
  3. Otite média serosa persistente > 3 meses com perda auditiva

* A decisão é sempre individualizada e tomada pelo ORL.

MITOS SOBRE OTITE MÉDIA

"Água no ouvido causa otite média" → A otite média é uma infeção interna
"Cortar o cabelo previne otites" → Não há qualquer relação
"Otites são sempre contagiosas" → A otite em si não é contagiosa
"Antibióticos devem ser sempre prescritos" → Muitos casos resolvem sem antibióticos

OTITES RECORRENTES: UM DESAFIO ESPECIAL 

Definição
≥ 3 episódios em 6 meses ou ≥ 4 episódios em 12 meses 

Investigação Adicional
  1. Avaliação imunológica (deficiências imunitárias)
  2. Estudo alergológico
  3. Avaliação audiológica
  4. RX Cavum – Avaliação de Hipertrofia das Adenóides
  5. TC ou RMN (se suspeita de malformações)

CONCLUSÃO

A otite média aguda é uma condição comum, mas potencialmente grave, que afeta milhões de crianças em todo o mundo. O conhecimento adequado dos seus sinais, fatores de risco e opções de tratamento permite aos pais uma resposta rápida e eficaz, minimizando o sofrimento da criança e prevenindo complicações.

A abordagem moderna da otite média aguda privilegia o equilíbrio entre o tratamento necessário e a prevenção da resistência aos antibióticos. Nem todos os casos requerem antibióticos imediatos – muitos podem ser tratados com vigilância ativa e medidas de suporte.

A prevenção continua a ser a melhor estratégia: aleitamento materno, vacinação adequada, evitar o fumo do tabaco e manter uma boa higiene são medidas simples mas extraordinariamente eficazes.

Lembrem-se: ante a dúvida, contactem sempre o vosso pediatra. Uma avaliação profissional é fundamental para o diagnóstico correto e tratamento adequado. A saúde auditiva do vosso filho é preciosa – cuidem dela com carinho e conhecimento.

Partilhem nos comentários: Já passaram pela experiência de uma otite média com os vossos filhos? Como foi? Que estratégias de alívio da dor resultaram melhor? As vossas experiências podem ajudar outras famílias!



REFERÊNCIAS

  • American Academy of Pediatrics. Clinical Practice Guideline: The Diagnosis and Management of AcuteOtitis Media. Pediatrics. 2023.
  • Sociedade Portuguesa de Pediatria. Consenso sobre Otite Média Aguda. 2022.
  • Organização Mundial de Saúde. Guidelines for the Management of Common Childhood Illnesses. 2024.
  • European Society for Paediatric Infectious Diseases. Management of Acute Otitis Media in Children. 2023. 

domingo, 3 de agosto de 2025

PREVENÇÃO DA OBESIDADE INFANTIL: PASSOS PRÁTICOS PARA PAIS 🍎👨‍👩‍👧‍👦

A obesidade infantil é um dos maiores desafios de saúde pública do século XXI. Em Portugal, cerca de 29% das crianças entre os 6 e os 9 anos apresentam excesso de peso ou obesidade (COSI, 2023). Mais do que números, falamos de autoestima, bem-estar físico e prevenção de doenças futuras. Este guia prático destina-se a apoiar pais e cuidadores na criação de hábitos saudáveis desde cedo. 🌟


1. O que é a obesidade infantil? 🤔
Define-se por um índice de massa corporal (IMC) ≥ percentil 97 para idade e sexo, segundo as curvas da Organização Mundial da Saúde. O excesso de peso corresponde ao IMC entre os percentis 85 e 97. A obesidade não é um problema estético apenas: associa-se a diabetes tipo 2, hipertensão, apneia do sono, problemas ortopédicos e impacto emocional (bullying, baixa autoestima). 💔

1.1 Fatores de risco ⚠️

• Genética e história familiar
• Excesso de ganho ponderal na gravidez
• Introdução precoce de alimentos hipercalóricos (< 4 meses)
• Sedentarismo (≥ 2 h/dia de ecrã) 📱
• Sono insuficiente (< 10–11 h nas idades escolares) 😴
• Ambiente "obesogénico" (publicidade, fast-food acessível, pouco espaço para brincar)


2. Avaliar e reconhecer sinais de alerta 🚨
O pediatra deve calcular IMC (índice de massa corporal) em todas as consultas de rotina. No dia-a-dia bserve se:

• Roupas deixam de servir rapidamente. 👕
• A criança perde fôlego em brincadeiras leves. 😮‍💨
• Surgem estrias ou zonas escuras na nuca/axilas (acantose nigricans).


3. Cinco Pilares para Prevenir a Obesidade 🏛️

3.1 Alimentação equilibrada 🥗
• Prato colorido: metade hortícolas, 1⁄4 proteína magra, 1⁄4 hidratos integrais. 🌈
• Evitar bebidas açucaradas; privilegiar água e leite. 💧🥛
• Pequenos-almoços ricos em fibra e proteína (ex.: aveia + iogurte natural + fruta). 🥣
• Guloseimas? Reserve-as para ocasiões especiais, sem "demonizar". 🍭
• Leitura de rótulos: < 5 g de açúcar por 100 g é regra-dourada. 🏷️

3.2 Atividade física diária 🏃‍♂️
A OMS recomenda ≥ 60 min de atividade moderada a vigorosa por dia. Sugestões:
• Caminhar ou pedalar para a escola. 🚶‍♀️🚴‍♂️
• Jogos no parque (escondidas, bola, corda). ⚽
• Dança ou artes marciais para os que não gostam de "desporto tradicional". 💃🥋

3.3 Sono reparador 😴
Sono insuficiente altera hormonas da saciedade (leptina, grelina). Crie rotina:
• Horário regular; ecrãs desligados 60 min antes. 📵
• Quarto escuro, silencioso, 18–20 °C. 🌙

3.4 Gestão emocional e relação com a comida 💭
• Evite usar comida como recompensa ou consolo.
• Ensine a criança a reconhecer fome vs. tédio.
• Pratique alimentação consciente: mastigar devagar, saborear. 🧘‍♀️

3.5 Ambiente familiar saudável 🏠
• Pais como modelo: comer o mesmo, exercitar-se juntos. 👨‍👩‍👧‍👦
• Refeições em família ≥ 5 vezes/semana reduzem risco de obesidade em 32%. 🍽️
• Cozinhar em casa > 4 vezes/semana corta ingestão média de 150 kcal/dia. 👨‍🍳

4. Dicas práticas para cada faixa etária 📊
0–2 anos 👶 Aleitamento materno exclusivo 6 m; evitar sumos; introduzir sólidos ricos em ferro e vegetais variados.

3–5 anos 🧒 Transformar legumes em sopas coloridas; jogos de corrida curtos; hora deitar ≤ 20h30.

6–9 anos 👧 Lanche escolar: fruta + pão integral; transporte ativo para escola; envolver criança nas compras.

10–12 anos 🧑 Ensinar leitura de rótulos; apps que contam passos; limite 2 h/dia ecrã recreativo.

13–17 anos 👦 Incentivar desportos de equipa; autonomia na confeção de snacks saudáveis; debate sobre marketing alimentar.


5. Como lidar com obstáculos comuns 🚧
• Falta de tempo para cozinhar > preparar legumes lavados no fim-de-semana. ⏰
• Negociação constante de doces > definir "dia da guloseima" (ex.: segundo sábado do mês). 🗓️
• Clima chuvoso > brincadeiras ativas em casa (dançar, yoga infantil). 🌧️
• Ambiente escolar > sugerir ao agrupamento "dia da fruta" e água na cantina. 🏫


Conclusão ✨
A prevenção da obesidade infantil depende de pequenas escolhas diárias que, somadas, fazem uma grande diferença. Comece hoje: escolha uma dica deste guia e implemente-a em família.

💬 Partilhe nos comentários: Qual destas estratégias vai experimentar primeiro? Como tem sido a vossa experiência em criar hábitos saudáveis em casa? Que obstáculos encontram no dia-a-dia? As vossas histórias inspiram outras famílias!

📚 Quer mais dicas sobre alimentação infantil? Vejam os nossos artigos sobre diversificação alimentar e aleitamento materno. Juntos faremos da comunidade C: Kids um espaço mais saudável! 🌟



Referências 📖

1. Organização Mundial da Saúde. Guideline on physical activity, sedentary behaviour and sleep for children under 5 years of age. Genebra, 2024.

2. Direção-Geral da Saúde. Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. Lisboa, 2023.

3. COSI Portugal. Relatório 2023: Prevalência de excesso de peso e obesidade infantil.

4. American Academy of Pediatrics. Clinical Report: The Role of the Pediatrician in Primary Prevention of Obesity. Pediatrics, 2022.




segunda-feira, 12 de maio de 2025

DISTÚRBIOS DE SONO EM PEDIATRIA - INSÓNIAS, PARASSÓNIAS E OUTROS.

Como pediatra, gostaria de partilhar convosco informações sobre um tema fundamental para o desenvolvimento saudável dos vossos filhos: o sono. A qualidade do sono afeta diretamente o crescimento, o desempenho escolar e até o humor das crianças e adolescentes. Vamos descobrir como proporcionar-lhes noites tranquilas e reparadoras.

PORQUE É QUE O SONO É TÃO IMPORTANTE?
O sono não é apenas um período de descanso – é um processo ativo e essencial durante o qual:

• O cérebro consolida as aprendizagens e fixa memórias
• É libertada a hormona do crescimento, fundamental para o desenvolvimento
• O sistema imunitário é fortalecido, protegendo contra infeções
• São processadas as emoções, contribuindo para o equilíbrio emocional

Quando uma criança dorme mal, pode manifestar irritabilidade, dificuldades de concentração, diminuição do rendimento escolar e até maior tendência para o aumento de peso.

QUANTO TEMPO DEVEM DORMIR?
  • 0-1 ano: 14-17 horas
  • 1-2 anos: 11-14 horas
  • 3-5 anos: 10-13 horas
  • 6-12 anos: 9-11 horas
  • 13-17 anos: 8-10 horas
Nota importante: Se o seu filho dorme habitualmente menos 1 hora que o mínimo recomendado, vale a pena discutir esta situação na próxima consulta.

COMO FUNCIONA O SONO?
O sono organiza-se em ciclos que alternam entre as fases REM (Rapid Eye Movement) e NREM (Non-REM). Cada ciclo dura aproximadamente 90 minutos e repete-se 4 a 6 vezes por noite.

•  NREM Fases 1-2: Sono leve, em que é fácil acordar
• NREM Fase 3: Sono profundo, essencial para a reparação dos tecidos e libertação da hormona do crescimento
• REM: Fase em que ocorrem os sonhos mais vívidos e o cérebro processa emoções e memórias

É interessante notar que as crianças pequenas passam mais tempo em sono profundo NREM para suportar o crescimento, enquanto os adolescentes necessitam de mais sono REM para consolidar as aprendizagens.

PROBLEMAS DE SONO MAIS FREQUENTES

INSÓNIA COMPORTAMENTAL
O que é? A criança tem dificuldade em adormecer ou acorda frequentemente durante a noite porque desenvolveu associações inadequadas para adormecer (como precisar de colo, telemóvel ou uma canção específica).

Sinais a que deve estar atento:
• Demora mais de 30 minutos a adormecer
• Pede repetidamente "só mais uma história!"
• Desperta várias vezes durante a noite

Causas habituais:
• Rotinas inconsistentes
• Utilização de ecrãs antes de deitar
• Ansiedade de separação

Como ajudar:
1. Estabelecer uma rotina fixa (jantar leve, banho morno, história curta).
2. Aplicar a técnica de "bedtime fading" - adiantar a hora de deitar 10 minutos por dia até atingir o horário desejado.
3. Praticar a extinção gradual - ignorar protestos ligeiros, mas confortar se o choro for intenso.
4. Em casos específicos, a melatonina pode ser útil, mas apenas sob orientação médica.

PARASSONIAS (EVENTOS ANORMAIS DURANTE O SONO)



APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO (SAOS)
Sinais principais:
• Ressonar intenso quase todas as noites
• Pausas na respiração (os pais observam "engasgos")
• Sono agitado em posições pouco naturais (pescoço em hiperextensão)

Durante o dia, a criança pode apresentar:
• Sonolência ou, paradoxalmente, hiperatividade
• Dificuldades de concentração e diminuição do rendimento escolar
• Atraso no crescimento e cefaleias matinais

Causas mais comuns:
• Hipertrofia das amígdalas e/ou adenoides, obesidade, alergias nasais.

Tratamento:
• Cirurgia para remoção das adenoides/amígdalas
• CPAP (máscara que mantém a via aérea aberta durante o sono)
• Perda de peso, quando indicado
• Tratamento das alergias nasais

SÍNDROME DAS PERNAS INQUIETAS (RLS)
A criança relata sensações desconfortáveis nas pernas e uma necessidade irresistível de as movimentar, especialmente ao anoitecer. Os sintomas aliviam com o movimento. Existe frequentemente história familiar.

Pode estar associada a:
• Níveis baixos de ferro (ferritina < 50 ng/mL)
• Deficiência de vitamina D

Abordagem:
1. Realizar análises sanguíneas
2. Se a ferritina estiver baixa, suplementar com ferro (≈ 3 mg/kg/dia) durante 2-3 meses
3. Praticar alongamentos antes de dormir
4. Evitar cafeína e bebidas energéticas

ATRASO DO RITMO CIRCADIANO
Mais frequente em adolescentes, que se sentem mais ativos à noite e têm dificuldade em acordar cedo.

Pistas:
• Adormecem após a 1h da manhã e, aos fins de semana, dormem até tarde

Como gerir:
• Exposição à luz solar matinal
• Reduzir a luminosidade e desligar os ecrãs à noite
• Melatonina em baixa dose, 2-3 horas antes da hora desejada para adormecer

Sinais de alarme — quando consultar um especialista
• Demorar mais de 30 minutos a adormecer e acordar mais de 3 vezes por noite durante mais de 3 semanas
• Ressonar intenso com pausas na respiração
• Sonolência diurna que interfere com as atividades escolares
• Parassónias que colocam a criança em risco (cair da cama, sair de casa)
• Puberdade atrasada ou crescimento lento sem causa aparente

Higiene do sono — conselhos práticos
1. Manter horários regulares para deitar e levantar, mesmo aos fins de semana
2. Desligar todos os ecrãs 60 minutos antes de dormir
3. Criar um ambiente propício ao sono: quarto escuro (cortinas blackout), fresco (18-20°C) e silencioso
4. Praticar exercício físico diariamente, mas evitar atividade intensa nas 2 horas antes de deitar
5. Eliminar cafeína depois das 16h (presente em café, chá preto, cola, bebidas energéticas)
6. Optar por um jantar leve, evitando alimentos fritos e com muito açúcar
7. Tomar um banho morno 30 minutos antes de deitar ajuda a relaxar
8. Estabelecer um ritual curto de preparação para o sono (livro ou música calma, máximo 15 minutos)

Exemplo de rotina para os 30 minutos antes de deitar:
30 min Desligar todos os ecrãs
25 min Lavar os dentes
20 min Vestir o pijama
15 min Leitura tranquila
0 min Apagar a luz

MITOS COMUNS SOBRE O SONO
1. "Quanto mais tarde adormecer, mais cansada fica e dorme melhor."
Falso! O excesso de cansaço pode dificultar o adormecimento.

2. "Ressonar é normal nas crianças."
Falso! Pode indicar apneia do sono e merece avaliação.

3. "A luz azul do telemóvel não afeta o sono."
Falso! Bloqueia a produção de melatonina, hormona essencial para o sono.

4. "Os suplementos de melatonina são sempre seguros."
Falso! Devem ser utilizados apenas com indicação médica.

PALAVRA FINAL
O sono de qualidade é fundamental para o desenvolvimento equilibrado dos vossos filhos. Problemas como a insónia, as parassonias e a apneia são frequentes mas, felizmente, tratáveis. Estabelecer rotinas consistentes e criar um ambiente adequado são passos importantes para melhorar a qualidade do sono. Se observarem algum dos sinais de alarme mencionados, não hesitem em procurar ajuda profissional. Como pediatra, estou disponível para esclarecer as vossas dúvidas e ajudar os vossos filhos a conseguirem noites tranquilas e reparadoras. Porque uma criança que dorme bem tem tudo para crescer feliz e saudável!

Nota: Este artigo tem carácter informativo e não substitui a avaliação médica.

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Epilepsia na criança. Parte 3 de 3. Tratamento, Prognóstico e Vida quotidiana

Após recebermos o diagnóstico de epilepsia do nosso filho, surge inevitavelmente a questão: "E agora? Como será o futuro da nossa criança?" Tenho uma mensagem tranquilizadora para vos transmitir: na grande maioria dos casos, a epilepsia pode ser eficazmente controlada, permitindo que a criança desfrute plenamente da sua infância: brincando, aprendendo, fazendo amizades e desenvolvendo-se harmoniosamente. Neste artigo, abordaremos o tratamento, as perspetivas futuras e estratégias práticas para o quotidiano.

A abordagem terapêutica varia conforme o tipo de epilepsia, a idade da criança e as características especificas das crises.
  • Medicação Antiepilética (MAE): A maioria das crianças inicia tratamento com fármacos que visam reduzir ou eliminar as crises. O objetivo é alcançar o controlo eficaz com a menor dose possível, minimizando potenciais efeitos secundários.
  • Intervenção Cirúrgica: Em situações selecionadas, quando as crises são difíceis de controlar e têm uma origem bem localizada, a cirurgia pode representar uma alternativa terapêutica.
  • Abordagens complementares:
    • Dieta cetogénica: particularmente em epilepsias refratárias
    • Neuroestimulação: em casos específicos
É fundamental compreender que o tratamento é sempre personalizado, adaptando-se às necessidades particulares de cada criança e família.

Perspetivas futuras: o que podemos esperar?
Muitas crianças conseguem ficar livres de crises com o tratamento adequado
• Algumas formas de epilepsia resolvem-se espontaneamente com o crescimento
• Outras podem necessitar de tratamento prolongado, mas permitindo uma qualidade de vida satisfatória
• Raramente, a epilepsia pode apresentar-se mais resistente ao tratamento, mas mesmo nestas situações, é possível reduzir a frequência e intensidade das crises com o acompanhamento apropriado

O quotidiano com epilepsia
A epilepsia é apenas uma parte da vida da criança, não a sua definição completa. Com orientação adequada e pequenas adaptações, ela pode participar ativamente nas atividades escolares, lúdicas e sociais.
 
Ambiente escolar e aprendizagem 
  • Informe educadores e professores sobre a condição da criança.
  • Oriente-os quanto aos procedimentos a adotar em caso de crise. 
  • Mantenha comunicação regular com a equipa educativa. 

 Atividade física

  • A prática desportiva é geralmente possível e benéfica.
  • Algumas precauções específicas devem ser discutidas com o pediatra ou neuropediatra. 

Desenvolvimento da autonomia

  • Envolva a criança, de acordo com a sua idade, nas decisões relacionadas com a sua saúde.
  • Estimule progressivamente a sua independência. 
  • Orientações práticas para o dia-a-dia. 
  • Estabeleça uma rotina regular de sono. 
  • Assegure a administração correta da medicação. 
  • Tenha sempre consigo informação essencial sobre a criança (tipo de epilepsia, medicaçãoe contactos de emergência). 
  • Prepare o círculo social próximo para saber agir adequadamente perante uma crise. 
  • Proporcione apoio emocional à criança: escute-a, compreenda as suas preocupações e normalize a sua experiência.

Reflexão final

Viver com epilepsia implica, certamente, alguns ajustes e atenção especial, mas também oferece oportunidades de desenvolvimento da resiliência e crescimento pessoal. Com o apoio integrado da família, da escola e da equipa de saúde, as crianças com epilepsia podem sonhar, concretizar projetos e viver uma vida plena e feliz.


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