Depois dos primeiros meses de vida, o sono da criança começa a transformar-se significativamente. O que antes era fragmentado e imprevisível torna-se mais estável, com ciclos mais longos e uma crescente consolidação do sono noturno. Mas com essa transição, surgem também novos desafios: regressões, birras, despertares noturnos, ansiedade de separação e a famosa “resistência à hora de dormir”. Nesta fase – dos 4 meses até aos 3 anos – a criança percorre um percurso intenso de maturação neurológica, emocional e comportamental. Neste artigo, exploramos as etapas esperadas do sono, os fenómenos típicos (como os despertares frequentes aos 8 meses ou o abandono das sestas) e como os cuidadores podem promover um sono saudável e tranquilo para toda a família.
1. O SONO DO LACTENTE: ETAPAS-CHAVE
Dos 4 aos 6 meses: primeiros progressos
• Nesta fase, muitos bebés começam a dormir blocos noturnos de 6 a 8 horas seguidas.
• O total de sono diário ronda as 12 a 16 horas, incluindo 2 a 3 sestas diurnas.
• O ritmo sono-vigília torna-se mais regular com o amadurecimento do sistema nervoso central.
• Começam a adormecer com menos ajuda dos pais – e muitos conseguem voltar a dormir sozinhos após pequenos despertares.
Dos 6 aos 12 meses: consolidação e regressões
• O sono noturno passa a representar a maior parte das horas dormidas. As sestas estabilizam em duas por dia.
• Entre os 8 e os 10 meses, é comum surgirem regressões do sono ligadas à ansiedade de separação, surgimento de novos marcos (engatinhar, ficar em pé, primeiras palavras).
• Mesmo bebés que já dormiam bem podem passar a acordar mais frequentemente – isso é normal e, na maioria das vezes, transitório.
Dos 12 aos 24 meses: maior estabilidade com novas lutas
• A maioria das crianças dorme entre 11 e 14 horas por dia, distribuídas entre uma longa noite e uma ou duas sestas.
• Por volta dos 15-18 meses, há uma transição natural de duas sestas para apenas uma.
• Os despertares noturnos tornam-se menos frequentes, mas ainda podem ocorrer por fome, sede, sonhos, dentição ou desejo de proximidade.
Dos 2 aos 3 anos: imaginação vívida e insónia comportamental
• Nesta idade, o sono noturno dura entre 10 e 11 horas, e a criança faz geralmente uma sesta após o almoço (1-2h).
• A criatividade floresce e surgem pesadelos ocasionais ou medos à hora de dormir.
• Pode também surgir a chamada “insónia comportamental por ausência de limites” – a criança tenta adiar a hora de dormir com pedidos constantes, resistência ou birras.
2. DESAFIOS COMUNS NESTA FASE
Regressões do sono
Ocorrem normalmente aos 4, 8, 12 e 18 meses. Caracterizam-se por um aumento súbito de despertares e dificuldade em adormecer. Estão relacionadas com marcos de desenvolvimento, picos de crescimento e mudanças de rotina.
Associações negativas de adormecimento
Se o bebé adormece sempre ao colo, a mamar ou no carro, poderá acordar a meio da noite a pedir exatamente o mesmo ambiente para voltar a adormecer.
Medos e pesadelos
A partir dos 2 anos, os medos tornam-se mais claros: escuro, monstros, separação dos pais. Os pesadelos podem perturbar o sono e exigir conforto.
Transição para o quarto próprio ou para a cama
Essa mudança é marcante. Exige adaptação e pode desencadear insegurança ou resistências.
3. HIGIENE DO SONO: O QUE FAZER ATÉ AOS 3 ANOS?
Manter horários regulares
• Defina uma hora de deitar e acordar estáveis, mesmo aos fins de semana.
• Esta previsibilidade ajuda a regular o ritmo circadiano e evita que a criança fique demasiado cansada (o que dificulta o sono).

Criar uma rotina noturna tranquila e repetitiva
• Duração: cerca de 20-30 minutos.
• Exemplo: banho morno → colocar pijama → escovar os dentes → ler uma história ou cantar uma canção → luz reduzida.
• O ritual deve ser sempre igual e sem ecrãs ou brincadeiras agitadas.
Favorecer o adormecer autónomo
• Tente que a criança adormeça ainda acordada, mas sonolenta, para aprender a acalmar-se sozinha.
• Pode usar uma técnica de afastamento gradual (ex.: sentar ao lado da cama e afastar-se mais a cada noite).
• O uso de um objeto de transição (peluche, fralda) ajuda a criar segurança.
Reagir com consistência aos despertares
• Se a criança acordar à noite, tranquilize com breves interações (voz suave, contacto físico breve) mas evite “recomeçar o ritual” completo.
• O objetivo é mostrar que ainda é hora de dormir, sem reforçar o comportamento de chamada constante.
Adaptar-se às fases especiais
• Durante doenças, viagens ou mudanças importantes, o sono pode regredir temporariamente.
• O importante é retomar a rotina habitual o mais cedo possível após o evento.
Manter um ambiente adequado ao sono
• Quarto escuro ou com luz de presença fraca (amarela).
• Temperatura confortável.
• Berço ou cama segura e sem distrações visuais excessivas.
• Evitar brincadeiras intensas ou televisão dentro do quarto.
4. CONCLUSÃO
O sono dos 4 meses aos 3 anos é como uma dança: por vezes harmoniosa, por vezes caótica – mas sempre em transformação. Os pais têm um papel central ao estabelecer limites suaves, rotinas estáveis e muito afeto. Compreender as etapas do desenvolvimento do sono permite agir com realismo e tranquilidade. E com isso, noites mais serenas tornam-se cada vez mais possíveis.
E aí em casa? Como correu esta fase com o vosso filho?
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– as vossas experiências são valiosas para todos!