Quando pensamos em epilepsia, muitos de nós imaginamos imediatamente uma criança com movimentos convulsivos intensos. No entanto, a realidade é muito mais variada e complexa. As crises epiléticas manifestam-se de formas diversas, nem sempre envolvendo movimentos visíveis ou óbvios. Neste artigo, procuro ajudar-vos a reconhecer os principais tipos de crises que podem ocorrer na infância, capacitando-vos para uma observação mais informada e um apoio mais eficaz.
Uma crise epilética resulta de uma atividade elétrica cerebral anormal e súbita. Dependendo da região cerebral afetada, as manifestações podem variar significativamente. Algumas crises são subtis e facilmente confundíveis com outros comportamentos, enquanto outras são mais evidentes e potencialmente impressionantes – todas merecem a nossa atenção cuidada.
Principais Tipos de Crises Epiléticas
1. Crises Focais (ou Parciais)
Têm origem numa região específica do cérebro.
• Podem manifestar-se através de movimentos involuntários num membro ou numa metade do corpo.
• Alterações sensoriais: distúrbios visuais, auditivos ou sensações de formigueiro.
• Em algumas situações, a criança mantém a consciência; noutras, pode ocorrer alteração da mesma.
• Por vezes, estas crises podem evoluir para crises generalizadas, envolvendo progressivamente todo o cérebro.
2. Crises Generalizadas
Envolvem, desde o início, ambos os hemisférios cerebrais. Há perda de consciência.
- A criança perde a consciência, apresenta rigidez inicial (fase tónica) seguida de movimentos rítmicos (fase clónica).
- Frequentemente associa-se salivação abundante, alterações do olhar e, por vezes, perda de controlo urinário.
- Após a crise, segue-se habitualmente um período de sonolência ou confusão (fase pós-ictal);
2)Crises de ausência (outrora conhecidas como "pequeno mal"):
- Episódios breves (geralmente segundos) de desconexão do ambiente- Podem ocorrer piscar de olhos ou pequenos movimentos automáticos- Facilmente confundíveis com momentos de distração ou desatenção
3)Crises atónicas:
- Caracterizam-se por perda súbita do tónus muscular, podendo resultar em quedas inesperadas
4)Crises mioclónicas:
- Movimentos bruscos e rápidos, frequentemente nos membros superiores
Como identificar uma crise?
Os pais e cuidadores são observadores privilegiados. Perante a suspeita de uma crise:
• Observe atentamente:
- O que fazia a criança antes da crise? Como se iniciou? Qual a duração aproximada?- Que movimentos apresentou? Estava consciente? Reagia a estímulos? Respondia verbalmente? Como se encontrava após o episódio?
• Se possível, registe para posterior análise médica;
• Mantenha um registo organizado, anotando data, hora, duração, descrição e contexto de cada episódio.
Lidar com o receio das crises
Mesmo as crises aparentemente mais dramáticas, como as tónico-clónicas, podem ser adequadamente controladas com tratamento apropriado. O fundamental é compreender o que está a acontecer e agir de forma informada e tranquila.
Recomendações práticas
• Nunca introduzir objetos na boca da criança durante uma crise
• Colocar a criança em posição lateral de segurança e proteger a cabeça
• Manter a calma — frequentemente, o aspeto das crises é mais impressionante do que o
risco real
• Comunicar sempre com o pediatra ou neurologista após um novo episódio
Uma palavra final
Reconhecer adequadamente o tipo de crise epilética não é responsabilidade exclusiva dos profissionais de saúde. Os pais e cuidadores desempenham um papel fundamental neste processo, permitindo um diagnóstico mais preciso e, consequentemente, uma abordagem terapêutica mais eficaz.
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