quinta-feira, 22 de maio de 2025

Estilos de Apego Inseguro: O Apego Ansioso


“Quando bebés, precisamos dos nossos pais (ou cuidadores) para sobreviver; não temos escolha em relação a isso. Nós adaptamo-nos de acordo com as suas capacidades ou à falta delas. Respondemos e crescemos de acordo com aquilo que funciona ou que não funciona no nosso contexto de cuidado.

Não importa qual o estilo de apego que incorporamos, eu penso que o facto de nos adaptarmos da melhor forma que podemos é digno de respeito e valor, e em algum nível digno de admiração pelo dilema que cada criança vive.

No melhor dos cenários, vivemos e crescemos numa família abençoada com o apego seguro. Se não, não temos escolha a não ser nos adaptarmos às limitações dos nossos cuidadores e nos adaptarmos da melhor forma possível para manter a nutrição das nossas necessidades de apego, mesmo que isso signifique, paradoxalmente, nos desligarmos da nossa necessidade de conexão.”

Diane Poole Heller




   Os apegos considerados “inseguros” são também conhecidos como apegos adaptativos, uma vez que eles surgem da necessidade da criança se adaptar ao meio, quando as contingências não são favoráveis ao seu desenvolvimento saudável.

        Assim, poderão desenvolver um dos 3 tipos de Apego Inseguro, sobre os quais faremos  uma breve  análise do cuidador, características que se evidenciam na infância e nos adultos (neste e próximo artigo).



Apego Ansioso

  • O Cuidador:

    Os seus cuidados oscilam entre sobreproteção e negligência, levando a criança a sentir que nunca sabe o que pode esperar, se pode ou não desenvolver confiança nos relacionamentos.

 

  • Características:

    - na infância a criança...

   - demonstra uma intensa necessidade de proximidade do cuidador e sente uma grande angústia e ansiedade na separação do mesmo quando este não está presente;

    - tem dificuldade em se acalmar após o reencontro;

    - Para garantir a presença e a atenção do cuidador, as crianças com apego ansioso podem apresentar comportamentos como chorar, agarrar-se, gritar ou tentar controlar a situação;

    - apresenta um padrão de desconfiança de estranhos;

  - pode ter dificuldade em lidar com a frustração, reagindo de forma exagerada ou emocionalmente instável. 

 

    Em adulto:

   - dificuldade em estabelecer relacionamentos saudáveis, sentindo-se inseguro e com medo de serem abandonado;

    - a pessoa deseja proximidade com a pessoa alvo do seu apego (amigo/a, namorado/a,  etc), mas ao mesmo tempo mantém sentimentos de resistência, como raiva e necessidade de punir o outro;

    - sensação permanente de ter de se preparar para o que pode vir a correr mal;

    - hiperfoco no outro, podendo levar a uma dinâmica de dependência emocional;

    - dificuldade em dizer “não”, em colocar limites;

    - tem medo de desagradar e por isso tenta sempre encaixar no mundo do outro, perdendo-se de si próprio/a (baixa autoconsciência e autoconceito);

  - elevada sensibilidade à percepção de rejeição/abandono, podendo se tornar facilmente ciumentos e desconfiados;

   - manifestação de choro fácil, um padrão de reclamação persistente e até chamar à atenção por adoecimento físico para se sentir ouvido ou visto;

    - vive num paradoxo entre a necessidade de conexão e a crença de que nunca será possível;

    - necessita de atos de reafirmação de segurança (envio de sms ao longo do dia, telefonemas, etc);

   - tendência a minimizar as tentativas de conexão, podendo por vezes desenvolver até formas de as sabotar, pelo medo de sofrer (dissonância cognitiva).

        

        Ao perpetuar estes comportamentos disfuncionais a pessoa acaba por afastar as pessoas de si, confirmando o seu medo de abandono. Isto reforça o ciclo, pautado por muita angústia.

 









quarta-feira, 21 de maio de 2025

Apego Seguro

 

Apego Seguro

“Se queremos uma criança independente e autoconfiante, teremos que tentar estabelecer um relacionamento seguro com ela. Isso significa estar presente e disponível, 
compreender e responder às suas necessidades como tal.”

-Mariel Bonnefon-





Neste tipo de apego...

  • O Cuidador:

    Reage de forma consistente, rápida e amorosa. Responde às necessidades da criança, criando um ambiente seguro e estável, comunica de forma clara e eficaz, incentiva a autonomia e independência da criança e cria oportunidades para a criança interagir com os outros de forma saudável e aprender a lidar com as emoções.

 

  • Características:

      Na infância a criança...

     - sente-se tranquila para explorar novas situações e desenvolver competências;

     - não teme novidades porque sente que tem sempre alguém para ajudar;

     - sente e demonstra a falta do cuidador. Procura e alegra-se com o seu reencontro;

     - inicia e procura o contato físico;

     - tem os limites bem definidos;

     - tem boas competências sociais;

    - tem uma boa neurocepção de segurança (não está sempre à procura do perigo, tem uma boa noção de segurança e quando não é seguro ela consegue identificar)

      - demonstra congruência entre o que pensa, sente e faz.

    Naturalmente, ao longo do desenvolvimento procuram suporte quando é preciso e vão oferecê-lo também, porque trazem isso na sua bagagem emocional de forma bem estabelecida, como algo natural.

 

    Em adultos:

    - sabem equilibrar a sua necessidade de independência com a necessidade de intimidade e proximidade nos seus relacionamentos - conectam-se com as outras pessoas de forma saudável;

    - conseguem pensar com flexibilidade;

    - têm uma visão positiva de si mesmos e dos outros, o que contribui para relacionamentos mais saudáveis e equilibrados;

    - percebem as diferentes possibilidades e estão confortáveis com as diferenças no contacto com os outros;

    - são resolutivos na forma como lidam com os seus conflitos;

    - expressam os seus sentimentos e necessidades de forma clara e honesta;

    - são pessoas resilientes.


domingo, 18 de maio de 2025

A Neurobiologia do Apego

 





        O ser humano quando nasce é totalmente dependente dos cuidadores! Daí vem a necessidade de se vincular. Este vínculo aos cuidadores primários designa-se de apego, constitui um imperativo biológico nos primeiros estágios de vida e marca a saúde mental ao longo da vida.

    Nesta interação com os cuidadores, sobretudo nos primeiros 3 anos de vida, desencadeiam-se vários processos e desenvolvem-se conexões entre os sistemas neurais, hormonais e comportamentais.

        🧠 Bases neurais do Apego:

- sistema límbico: centro das emoções, onde o hipocampo e a amígdala processam memórias emocionais e respostas ao stress relacionadas ao apego;

- córtex pré-frontal: responsável pela regulação emocional, atenção e concentração, memória de trabalho, flexibilidade cognitiva e tomada de decisões nos relacionamentos;

- circuito de recompensa: o sistema dopaminérgico cria sensações prazerosas durante interações positivas com figuras de apego, reforçando os comportamentos de busca por proximidade e cuidado.

        🧠 Neurotransmissores e hormonas:

- ocitocina: facilita a vinculação e confiança;

- vasopressina: contribui para comportamentos de apego, especialmente em vínculos afetivos de longo prazo;

- cortisol: hormona do stress, que se eleva durante a separação das figuras de apego;

- endorfinas: geram a sensação de bem-estar durante o contacto com as figuras de apego.

        

Deste modo, a neurobiologia do apego vem confirmar a profunda relação entre as experiências de apego, o funcionamento cerebral e a saúde mental. Padrões de apego inseguros, podem ter consequências negativas na saúde mental, como perturbação de ansiedade, depressão e até dificuldades nos relacionamentos ao longo da vida, uma vez que os apegos criados posteriormente (sejam amigos ou parceiros amorosos), reutilizam o mecanismo básico estabelecido pelo vínculo inicial com os cuidadores primários durante a infância. 

O luto na infância - como lidar de forma consciente

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