quarta-feira, 21 de maio de 2025

Apego Seguro

 

Apego Seguro

“Se queremos uma criança independente e autoconfiante, teremos que tentar estabelecer um relacionamento seguro com ela. Isso significa estar presente e disponível, 
compreender e responder às suas necessidades como tal.”

-Mariel Bonnefon-





Neste tipo de apego...

  • O Cuidador:

    Reage de forma consistente, rápida e amorosa. Responde às necessidades da criança, criando um ambiente seguro e estável, comunica de forma clara e eficaz, incentiva a autonomia e independência da criança e cria oportunidades para a criança interagir com os outros de forma saudável e aprender a lidar com as emoções.

 

  • Características:

      Na infância a criança...

     - sente-se tranquila para explorar novas situações e desenvolver competências;

     - não teme novidades porque sente que tem sempre alguém para ajudar;

     - sente e demonstra a falta do cuidador. Procura e alegra-se com o seu reencontro;

     - inicia e procura o contato físico;

     - tem os limites bem definidos;

     - tem boas competências sociais;

    - tem uma boa neurocepção de segurança (não está sempre à procura do perigo, tem uma boa noção de segurança e quando não é seguro ela consegue identificar)

      - demonstra congruência entre o que pensa, sente e faz.

    Naturalmente, ao longo do desenvolvimento procuram suporte quando é preciso e vão oferecê-lo também, porque trazem isso na sua bagagem emocional de forma bem estabelecida, como algo natural.

 

    Em adultos:

    - sabem equilibrar a sua necessidade de independência com a necessidade de intimidade e proximidade nos seus relacionamentos - conectam-se com as outras pessoas de forma saudável;

    - conseguem pensar com flexibilidade;

    - têm uma visão positiva de si mesmos e dos outros, o que contribui para relacionamentos mais saudáveis e equilibrados;

    - percebem as diferentes possibilidades e estão confortáveis com as diferenças no contacto com os outros;

    - são resolutivos na forma como lidam com os seus conflitos;

    - expressam os seus sentimentos e necessidades de forma clara e honesta;

    - são pessoas resilientes.


domingo, 18 de maio de 2025

A Neurobiologia do Apego

 





        O ser humano quando nasce é totalmente dependente dos cuidadores! Daí vem a necessidade de se vincular. Este vínculo aos cuidadores primários designa-se de apego, constitui um imperativo biológico nos primeiros estágios de vida e marca a saúde mental ao longo da vida.

    Nesta interação com os cuidadores, sobretudo nos primeiros 3 anos de vida, desencadeiam-se vários processos e desenvolvem-se conexões entre os sistemas neurais, hormonais e comportamentais.

        🧠 Bases neurais do Apego:

- sistema límbico: centro das emoções, onde o hipocampo e a amígdala processam memórias emocionais e respostas ao stress relacionadas ao apego;

- córtex pré-frontal: responsável pela regulação emocional, atenção e concentração, memória de trabalho, flexibilidade cognitiva e tomada de decisões nos relacionamentos;

- circuito de recompensa: o sistema dopaminérgico cria sensações prazerosas durante interações positivas com figuras de apego, reforçando os comportamentos de busca por proximidade e cuidado.

        🧠 Neurotransmissores e hormonas:

- ocitocina: facilita a vinculação e confiança;

- vasopressina: contribui para comportamentos de apego, especialmente em vínculos afetivos de longo prazo;

- cortisol: hormona do stress, que se eleva durante a separação das figuras de apego;

- endorfinas: geram a sensação de bem-estar durante o contacto com as figuras de apego.

        

Deste modo, a neurobiologia do apego vem confirmar a profunda relação entre as experiências de apego, o funcionamento cerebral e a saúde mental. Padrões de apego inseguros, podem ter consequências negativas na saúde mental, como perturbação de ansiedade, depressão e até dificuldades nos relacionamentos ao longo da vida, uma vez que os apegos criados posteriormente (sejam amigos ou parceiros amorosos), reutilizam o mecanismo básico estabelecido pelo vínculo inicial com os cuidadores primários durante a infância. 

segunda-feira, 12 de maio de 2025

DISTÚRBIOS DE SONO EM PEDIATRIA - INSÓNIAS, PARASSÓNIAS E OUTROS.

Como pediatra, gostaria de partilhar convosco informações sobre um tema fundamental para o desenvolvimento saudável dos vossos filhos: o sono. A qualidade do sono afeta diretamente o crescimento, o desempenho escolar e até o humor das crianças e adolescentes. Vamos descobrir como proporcionar-lhes noites tranquilas e reparadoras.

PORQUE É QUE O SONO É TÃO IMPORTANTE?
O sono não é apenas um período de descanso – é um processo ativo e essencial durante o qual:

• O cérebro consolida as aprendizagens e fixa memórias
• É libertada a hormona do crescimento, fundamental para o desenvolvimento
• O sistema imunitário é fortalecido, protegendo contra infeções
• São processadas as emoções, contribuindo para o equilíbrio emocional

Quando uma criança dorme mal, pode manifestar irritabilidade, dificuldades de concentração, diminuição do rendimento escolar e até maior tendência para o aumento de peso.

QUANTO TEMPO DEVEM DORMIR?
  • 0-1 ano: 14-17 horas
  • 1-2 anos: 11-14 horas
  • 3-5 anos: 10-13 horas
  • 6-12 anos: 9-11 horas
  • 13-17 anos: 8-10 horas
Nota importante: Se o seu filho dorme habitualmente menos 1 hora que o mínimo recomendado, vale a pena discutir esta situação na próxima consulta.

COMO FUNCIONA O SONO?
O sono organiza-se em ciclos que alternam entre as fases REM (Rapid Eye Movement) e NREM (Non-REM). Cada ciclo dura aproximadamente 90 minutos e repete-se 4 a 6 vezes por noite.

•  NREM Fases 1-2: Sono leve, em que é fácil acordar
• NREM Fase 3: Sono profundo, essencial para a reparação dos tecidos e libertação da hormona do crescimento
• REM: Fase em que ocorrem os sonhos mais vívidos e o cérebro processa emoções e memórias

É interessante notar que as crianças pequenas passam mais tempo em sono profundo NREM para suportar o crescimento, enquanto os adolescentes necessitam de mais sono REM para consolidar as aprendizagens.

PROBLEMAS DE SONO MAIS FREQUENTES

INSÓNIA COMPORTAMENTAL
O que é? A criança tem dificuldade em adormecer ou acorda frequentemente durante a noite porque desenvolveu associações inadequadas para adormecer (como precisar de colo, telemóvel ou uma canção específica).

Sinais a que deve estar atento:
• Demora mais de 30 minutos a adormecer
• Pede repetidamente "só mais uma história!"
• Desperta várias vezes durante a noite

Causas habituais:
• Rotinas inconsistentes
• Utilização de ecrãs antes de deitar
• Ansiedade de separação

Como ajudar:
1. Estabelecer uma rotina fixa (jantar leve, banho morno, história curta).
2. Aplicar a técnica de "bedtime fading" - adiantar a hora de deitar 10 minutos por dia até atingir o horário desejado.
3. Praticar a extinção gradual - ignorar protestos ligeiros, mas confortar se o choro for intenso.
4. Em casos específicos, a melatonina pode ser útil, mas apenas sob orientação médica.

PARASSONIAS (EVENTOS ANORMAIS DURANTE O SONO)



APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO (SAOS)
Sinais principais:
• Ressonar intenso quase todas as noites
• Pausas na respiração (os pais observam "engasgos")
• Sono agitado em posições pouco naturais (pescoço em hiperextensão)

Durante o dia, a criança pode apresentar:
• Sonolência ou, paradoxalmente, hiperatividade
• Dificuldades de concentração e diminuição do rendimento escolar
• Atraso no crescimento e cefaleias matinais

Causas mais comuns:
• Hipertrofia das amígdalas e/ou adenoides, obesidade, alergias nasais.

Tratamento:
• Cirurgia para remoção das adenoides/amígdalas
• CPAP (máscara que mantém a via aérea aberta durante o sono)
• Perda de peso, quando indicado
• Tratamento das alergias nasais

SÍNDROME DAS PERNAS INQUIETAS (RLS)
A criança relata sensações desconfortáveis nas pernas e uma necessidade irresistível de as movimentar, especialmente ao anoitecer. Os sintomas aliviam com o movimento. Existe frequentemente história familiar.

Pode estar associada a:
• Níveis baixos de ferro (ferritina < 50 ng/mL)
• Deficiência de vitamina D

Abordagem:
1. Realizar análises sanguíneas
2. Se a ferritina estiver baixa, suplementar com ferro (≈ 3 mg/kg/dia) durante 2-3 meses
3. Praticar alongamentos antes de dormir
4. Evitar cafeína e bebidas energéticas

ATRASO DO RITMO CIRCADIANO
Mais frequente em adolescentes, que se sentem mais ativos à noite e têm dificuldade em acordar cedo.

Pistas:
• Adormecem após a 1h da manhã e, aos fins de semana, dormem até tarde

Como gerir:
• Exposição à luz solar matinal
• Reduzir a luminosidade e desligar os ecrãs à noite
• Melatonina em baixa dose, 2-3 horas antes da hora desejada para adormecer

Sinais de alarme — quando consultar um especialista
• Demorar mais de 30 minutos a adormecer e acordar mais de 3 vezes por noite durante mais de 3 semanas
• Ressonar intenso com pausas na respiração
• Sonolência diurna que interfere com as atividades escolares
• Parassónias que colocam a criança em risco (cair da cama, sair de casa)
• Puberdade atrasada ou crescimento lento sem causa aparente

Higiene do sono — conselhos práticos
1. Manter horários regulares para deitar e levantar, mesmo aos fins de semana
2. Desligar todos os ecrãs 60 minutos antes de dormir
3. Criar um ambiente propício ao sono: quarto escuro (cortinas blackout), fresco (18-20°C) e silencioso
4. Praticar exercício físico diariamente, mas evitar atividade intensa nas 2 horas antes de deitar
5. Eliminar cafeína depois das 16h (presente em café, chá preto, cola, bebidas energéticas)
6. Optar por um jantar leve, evitando alimentos fritos e com muito açúcar
7. Tomar um banho morno 30 minutos antes de deitar ajuda a relaxar
8. Estabelecer um ritual curto de preparação para o sono (livro ou música calma, máximo 15 minutos)

Exemplo de rotina para os 30 minutos antes de deitar:
30 min Desligar todos os ecrãs
25 min Lavar os dentes
20 min Vestir o pijama
15 min Leitura tranquila
0 min Apagar a luz

MITOS COMUNS SOBRE O SONO
1. "Quanto mais tarde adormecer, mais cansada fica e dorme melhor."
Falso! O excesso de cansaço pode dificultar o adormecimento.

2. "Ressonar é normal nas crianças."
Falso! Pode indicar apneia do sono e merece avaliação.

3. "A luz azul do telemóvel não afeta o sono."
Falso! Bloqueia a produção de melatonina, hormona essencial para o sono.

4. "Os suplementos de melatonina são sempre seguros."
Falso! Devem ser utilizados apenas com indicação médica.

PALAVRA FINAL
O sono de qualidade é fundamental para o desenvolvimento equilibrado dos vossos filhos. Problemas como a insónia, as parassonias e a apneia são frequentes mas, felizmente, tratáveis. Estabelecer rotinas consistentes e criar um ambiente adequado são passos importantes para melhorar a qualidade do sono. Se observarem algum dos sinais de alarme mencionados, não hesitem em procurar ajuda profissional. Como pediatra, estou disponível para esclarecer as vossas dúvidas e ajudar os vossos filhos a conseguirem noites tranquilas e reparadoras. Porque uma criança que dorme bem tem tudo para crescer feliz e saudável!

Nota: Este artigo tem carácter informativo e não substitui a avaliação médica.

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