terça-feira, 4 de março de 2025

Manchas ...e mais pintas: as doenças infeciosas exantemáticas da infância. Parte 1.

Doenças exantemáticas são infeções na infância que causam febre associada a manchas ou pintinhas avermelhadas na pele (exantema). São transmitidas facilmente de pessoa a pessoa, mas muitas podem ser prevenidas por vacinação – como é o caso do sarampo, rubéola e varicela.

A seguir, detalharemos as características das principais doenças exantemáticas infantis, com orientações sobre sintomas, diagnóstico, tratamento de suporte e medicações específicas quando necessárias. Em cada caso, reforça-se a importância da hidratação, do controlo da febre e do alívio do desconforto, além de medidas específicas. Lembre-se que vacinar as crianças conforme o calendário é a forma mais eficaz de as proteger dessas doenças.

Devido ao facto de serem várias doenças e o texto ficar demasiado comprido, o tema foi subdividido em 3 partes:

1) Parte 1: Sarampo, Rubéola e Varicela.

2) Parte 2: Escarlatina e Exantema Súbito.

3) Parte 3: Eritema Infecioso e Doença Pés-Mãos-Boca.

Sarampo – Vírus do Sarampo

Apresentação clínica: O sarampo é uma doença viral altamente contagiosa que pode ser grave. Os sintomas iniciais incluem febre alta (acima de 38,5°C), mal-estar, coriza, tosse seca e conjuntivite. Pequenas manchas brancas na mucosa da boca (manchas de Koplik) podem aparecer. Após 3 a 5 dias, surge o exantema: manchas vermelhas começam na face (atrás das orelhas) e se espalham para todo o corpo. A criança costuma ficar muito abatida.

Diagnóstico: É clínico, baseado nos sintomas e rash típico; exames serológicos podem confirmar.

Tratamento: Não há tratamento específico antiviral para o sarampo. O tratamento é sintomático e de suporte: repouso, líquidos abundantes e antipiréticos/analgésicos para febre e dores (como paracetamol). Em casos indicados, o médico pode prescrever vitamina A para reduzir a gravidade. Febre persistente após o aparecimento das manchas é um sinal de alerta para complicações.

Terapêutica sintomática: Manter a criança bem hidratada, controlar a febre com antitérmicos e aliviar a congestão nasal.

Terapêutica antimicrobiana: Não se usam antivirais específicos; caso ocorram infeções secundárias (por exemplo, pneumonia bacteriana), antibióticos serão indicados pelo médico.

Prevenção: Vacina VASPR (sarampo, papeira, rubéola) aplicada aos 12 meses e 5 anos – fundamental para evitar a doença!

Rubéola – Vírus da Rubéola

Apresentação clínica: A rubéola é uma doença viral geralmente ligeira em crianças. Causa febre baixa, mal-estar, gânglios inchados atrás das orelhas (ínguas) e um exantema rosado no rosto que se espalha pelo tronco, durando cerca de 3 dias. A face pode apresentar vermelhidão discreta e a área ao redor da boca fica pálida. É comum a criança estar bem ou com sintomas ligeiros; em muitos casos a infeção pode até passar despercebida.

Diagnóstico: Clinicamente pelos sintomas e rash maculopapular típico. Pode-se confirmar com exame de sangue (serologia IgM/IgG) especialmente em casos duvidosos ou na gravidez.

Tratamento: Não há tratamento específico para a rubéola – a doença é autolimitada e os sintomas costumam ser benignos. O tratamento foca no alívio dos sintomas: repouso, hidratação e medicamentos para febre e dor conforme necessidade (antitérmicos/analgésicos como paracetamol ou ibuprofeno, prescritos pelo pediatra). Comichão, se presente, pode ser aliviada com loções calmantes e/ou anti-histamínico oral.

Terapêutica sintomática: Manter a criança confortável, em repouso e bem hidratada; usar compressas mornas para aliviar dores nas articulações se ocorrerem (mais comum em adolescentes).

Terapêutica antimicrobiana: Por ser doença viral, não se usam antivirais específicos nem antibióticos (estes só são necessários se alguma complicação bacteriana ocorrer, o que é raro).

Prevenção: VASPR – graças à vacinação em massa, a rubéola foi eliminada em muitos países.

Atenção: Embora ligeira na infância, a rubéola na gravidez pode causar graves malformações congénitas no bebé (síndrome da rubéola congénita) - por isso é crucial a vacinação.

Varicela (Catapora) – Vírus da Varicela-Zoster

Apresentação clínica: A varicela é uma infeção viral muito contagiosa, geralmente benigna em crianças. Inicia-se com febre moderada, mal-estar e surgimento de lesões de pele características: pequenas manchas vermelhas que evoluem para vesículas (bolhas cheias de líquido) e depois formam crostas. As lesões aparecem em surtos sucessivos, espalhando-se por todo o corpo (inclusive couro cabeludo, face e mucosas) – é comum observar lesões em diferentes estágios ao mesmo tempo. A criança costuma apresentar comichão intensa.

Diagnóstico: É essencialmente clínico, pelo aparecimento típico das lesões em vários estágios, nomeadamente da vesícula tão característica. Em caso de dúvida, exames laboratoriais (serologia) confirmam.

Tratamento: O foco é no alívio dos sintomas e prevenção de infeções secundárias. As principais medidas de cuidados em casa incluem:

Controlo da febre e dor: uso de antipiréticos e analgésicos prescritos (paracetamol é preferido). Não ofereça ibuprofeno a crianças com varicela, devido ao risco de Síndrome de Reye.

Alívio da Comichão: Manter as unhas da criança curtas e limpas e, se necessário, usar luvas, para evitar que ela se coce e infecione as lesões. Banhos frios ou mornos podem aliviar; podem-se usar cremes ou loções para acalmar a pele; uso de anti-histamínicos orais também conferem alívio.

Hidratação e repouso: Oferecer líquidos para prevenir desidratação, e manter a criança em repouso enquanto tiver febre ou indisposição.

Terapêutica antimicrobiana: Antibióticos não têm efeito sobre o vírus da varicela, mas podem ser necessários se alguma lesão de pele infecionar (impetiginização por bactérias) – por isso é importante evitar que a criança coce e cause feridas.

Terapêutica antiviral: Antiviral específico (aciclovir), principalmente se for uma criança mais velha, adolescente ou pessoa com risco de complicações. O aciclovir ajuda a encurtar a duração da doença e reduzir a gravidade se iniciado nas primeiras 24/48h após o surgimento do exantema.

Evolução: A varicela geralmente dura cerca de 7 a 10 dias. As vesículas secam e formam crostas que caem sozinhas; evite removê-las para não deixar cicatrizes. Se a febre durar mais que 4 dias ou passar de 39°C deve ser observada clinicamente.

Prevenção: A vacina evita a maioria dos casos ou garante que a doença ocorra de forma bem mais ligeira. Tem indicações específicas consoante os países. Em Portugal recomenda-se em determinadas patologias e em adolescentes acima dos 10 anos sem história da doença.


(continua...)



 

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