sábado, 15 de fevereiro de 2025

Adolescência: transformações no corpo e na mente.

A adolescência constitui o período de transição entre a infância e a idade adulta, caracterizando-se por profundas mudanças corporais e na forma como o jovem se relaciona com o mundo que o rodeia. As múltiplas alterações físicas, sexuais, cognitivas, sociais e emocionais que ocorrem durante este período podem gerar expectativa e ansiedade tanto nas crianças como nas suas famílias. A compreensão do que se pode esperar em cada fase promove um desenvolvimento saudável durante a adolescência e no início da idade adulta.


Início da Adolescência ou Pré-Adolescência (10 aos 13 anos)

Durante esta fase, observa-se uma aceleração do crescimento físico. Surgem outras alterações corporais, nomeadamente o aparecimento de pelos axilares e púbicos, o desenvolvimento mamário nas raparigas e o aumento do volume testicular nos rapazes. Estas alterações iniciam-se geralmente um a dois anos mais cedo nas raparigas, podendo começar aos 8 anos nas raparigas e aos 9 anos nos rapazes, dentro

da normalidade. A menarca (primeira menstruação) ocorre, em média, aos 12 anos, habitualmente 2 a 3 anos após o início do desenvolvimento mamário.

Estas transformações corporais podem despertar curiosidade e ansiedade, especialmente quando há desconhecimento sobre o que esperar ou sobre o que é normal. Algumas crianças podem questionar a sua identidade de género nesta fase, sendo o início da puberdade particularmente desafiante para crianças transgénero.

Os jovens adolescentes apresentam um pensamento concreto, dicotómico. As situações são interpretadas como certas ou erradas, extraordinárias ou terríveis, sem grandes nuances. É característico desta fase o egocentrismo, com os jovens a focarem o pensamento em si próprios. Como consequência, os pré-adolescentes e adolescentes frequentemente manifestam autoconsciência relativamente à sua aparência e sentem- se constantemente avaliados pelos seus pares.

Os pré-adolescentes manifestam uma crescente necessidade de privacidade, começando a explorar formas de independência relativamente à família. Neste processo, podem ultrapassar limites e reagir intensamente quando os pais ou tutores reforçam as fronteiras estabelecidas.

Adolescência Intermédia (14-17 anos)

As alterações físicas da puberdade prosseguem durante esta fase. A maioria dos rapazes inicia o seu surto de crescimento, continuando as mudanças pubertárias. Podem surgir alterações na voz, com algumas oscilações durante o processo de mudança para um timbre mais grave. O acne é frequente nesta fase. Nas raparigas, as alterações físicas encontram-se praticamente concluídas, tendo a maioria ciclos menstruais regulares.

Nesta idade, muitos adolescentes desenvolvem interesse por relações românticas e sexuais. Podem questionar e explorar a sua identidade sexual, processo que pode ser particularmente difícil sem o apoio adequado dos pares, familiares ou comunidade. A autoestimulação, ou masturbação, constitui uma forma típica de exploração da sexualidade comum a todos os géneros.

Os adolescentes nesta fase têm frequentemente mais discussões com os pais enquanto procuram maior independência. O tempo dedicado à família diminui, privilegiando-se o convívio com os amigos. Demonstram grande preocupação com a aparência, sendo esta a fase em que a pressão dos pares atinge o seu máximo.

O cérebro continua o seu processo de maturação, mantendo ainda diferenças significativas comparativamente ao funcionamento cerebral do adulto. Este facto deve- se principalmente aos lobos frontais serem as últimas áreas cerebrais a amadurecer, processo que se prolonga até cerca dos 25 anos. Os lobos frontais desempenham um

papel fundamental na coordenação de processos complexos de tomada de decisão, controlo de impulsos e capacidade de considerar múltiplas opções e consequências.

Os adolescentes nesta fase desenvolvem maior capacidade de pensamento abstrato e de consideração do "panorama geral", embora possam ter dificuldade em aplicar este pensamento no momento presente. Por exemplo, podem ter pensamentos como:

"As minhas notas a matemática estão razoáveis e quero muito ver este filme... Faltar um dia ao estudo não terá importância."

"Será mesmo necessário usar preservativo se a minha namorada tomar a pílula?"

"A cannabis é legal, pelo que não deve ser assim tão prejudicial."

Embora possam compreender a lógica de evitar riscos em abstracto, as emoções intensas frequentemente predominam nas suas decisões quando os impulsos estão envolvidos.

Adolescência Tardia (18-21 anos... e mais além)

Os adolescentes tardios geralmente completam o desenvolvimento físico e atingem a altura definitiva. Demonstram maior controlo de impulsos e maior capacidade de avaliação de riscos e benefícios. Comparativamente com o adolescente intermédio, os jovens nesta fase podem elaborar pensamentos como:

  • "Apesar de gostar muito dos filmes do Paul Rudd, preciso de estudar para o exame final."

  • "Devo usar preservativo... Mesmo que a minha namorada tome contraceptivos orais, estes não são 100% eficazes na prevenção da gravidez."

  • "Embora a cannabis seja legal, estou preocupad@... Poderá afectar o meu humor e desempenho no

    trabalho/escola..."

Os adolescentes que transitam para a idade adulta desenvolvem uma noção mais sólida da sua individualidade e identificam os seus próprios valores. Demonstram maior foco no futuro, baseando as decisões nas suas aspirações e ideais.

As amizades e relações românticas tornam-se mais estáveis. Estabelecem maior independência emocional e física relativamente à família. Contudo, muitos reconstroem uma relação

"adulta" com os pais, considerando-os mais como iguais a quem recorrer para aconselhamento e discussão de temas maduros, em vez de figuras de autoridade.

Como Apoiar o Seu Filho Durante a Adolescência

As famílias frequentemente enfrentam desafios na adaptação à mudança das dinâmicas relacionais durante a adolescência. No entanto, os pais mantêm-se como suporte fundamental durante todo este período.

Sugerem-se algumas estratégias:

Prepare o seu filho para as alterações corporais. Informe-se sobre a puberdade e explique as mudanças expectáveis. Tranquilize-o quanto à normalidade das alterações físicas e da emergência da sexualidade no desenvolvimento saudável. Permita espaço para questões, respeitando o ritmo individual.

Inicie precocemente conversas sobre temas importantes. Mantenha uma comunicação aberta sobre relações saudáveis, sexualidade, consentimento e segurança (incluindo prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, gravidez e consumo de substâncias). O estabelecimento destas conversas no início da adolescência facilita discussões posteriores.

Mantenha um diálogo positivo com o seu filho. Realce as suas qualidades e celebre os seus sucessos!!

Proporcione apoio e estabeleça limites claros com expectativas elevadas mas razoáveis. Defina regras claras e adequadas relativamente a horários, envolvimento escolar e utilização de dispositivos electrónicos. Simultaneamente, permita uma progressiva autonomia à medida que o seu filho assume responsabilidades. Os jovens cujos pais procuram este equilíbrio apresentam menores taxas de depressão e consumo de substâncias.

Discuta comportamentos de risco e suas consequências. Dê exemplo positivo (não fume!). Isto auxilia os adolescentes na antecipação e preparação para situações futuras.

Respeite a independência e individualidade. Este processo integra a transição para a idade adulta. Reforce sempre a sua disponibilidade para apoio quando necessário. A adolescência pode assemelhar-se a uma montanha-russa. A manutenção de relações positivas e respeitosas entre pais e filhos durante este período permite que a família (tente) desfrutar desta viagem!

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Adolescência & Independência: Um Percurso Gradual

A conquista da independência é uma das tarefas mais importantes da adolescência. Por mais desafiante que seja observar os nossos filhos a crescerem, é fundamental para o seu bem-estar e para a saúde das nossas relações que respeitemos esta progressiva autonomia. Quando os tentamos controlar em demasia, eles rebelam-se. Quando supervisionamos a sua segurança enquanto os orientamos rumo à independência por vezes de forma ativa, outras vezes dando-lhes espaço eles valorizam o nosso apoio.

São as questões quotidianas, mesmo as aparentemente triviais, que desencadeiam a maioria dos conflitos entre pais e filhos, mas também proporcionam oportunidades para promover a autonomia. O vosso filho pode considerar que deve ter um novo privilégio apenas porque atingiu determinada idade ou porque os amigos já o têm, mas pode não possuir ainda as competências necessárias para gerir a situação.

A adolescência é naturalmente preenchida com momentos de tentativa e erro e, em última análise, de sucesso. O desafio dos pais consiste em garantir que o filho aprenda com os erros do dia-a-dia, em vez de os encarar como catástrofes. Em simultâneo, é necessário manter a vigilância para ajudar o adolescente a evitar erros que possam causar danos irreparáveis.

Para determinar quando o vosso filho está preparado para assumir um novo desafio, é fundamental reconhecer se existem condições suficientes para aumentar as probabilidades de sucesso. Por exemplo, um pedido do vosso filho de 14 anos para passar a tarde no centro comercial não dependerá apenas da idade, mas sim se lhe ensinaram, através do vosso exemplo, a gerir dinheiro com sensatez e a tratar os outros com respeito.

É importante utilizar uma abordagem progressiva para permitir que o vosso filho demonstre que está preparado para assumir mais responsabilidades. Uma estratégia cuidadosa e gradual ajudará tanto o filho como os pais a ganharem confiança.

Ensinar Responsabilidade e Autonomia

À medida que os adolescentes conquistam os privilégios da idade adulta, precisam de compreender as responsabilidades que os acompanham. As decisões dos adultos têm consequências, positivas e negativas, com as quais terão de lidar.

Como pais, é necessário:
- Reduzir a realização de tarefas que os adolescentes podem fazer autonomamente

- Permitir que as consequências naturais das suas ações aconteçam

- Estabelecer uma mesada regular, sem extras, incentivando a gestão financeira responsável

- Ensinar estratégias de organização
- Auxiliar na tomada de decisões, analisando opções e consequências

Construindo uma Relação Adulta

À medida que os filhos se tornam adultos, a dinâmica familiar deve evoluir. O objectivo é desenvolver uma relação de respeito mútuo entre adultos. É importante manter o diálogo aberto, partilhar experiências e continuar a demonstrar interesse pela vida uns dos outros.

Em casa, é fundamental estabelecer regras claras de convivência, garantir que todos contribuem para as tarefas domésticas e respeitar o espaço individual de cada um. Os adolescentes precisam de um espaço próprio para se expressarem e desenvolverem o seu sentido de autodisciplina.

A segurança continuará sempre a ser uma preocupação dos pais, mas os adolescentes devem começar a assumir responsabilidade pela sua própria segurança, compreendendo e respeitando limites estabelecidos, como horários de regresso a casa.

Esta jornada rumo à independência é simultaneamente estimulante e desafiante para pais e adolescentes. Com uma abordagem equilibrada entre supervisão e autonomia, podemos ajudar os nossos filhos a tornarem-se adultos responsáveis e independentes. 



domingo, 26 de janeiro de 2025

Portava-se tão bem e... as Birras!!!

A infância é um período desafiante para as crianças e para os pais. No seio familiar, procura-se segurança e carinho, testam-se regras e limites, promove-se independência, experimentam-se emoções e situações que replicam a vida em sociedade e a interação com os pares. Na educação de uma criança em idade pré-escolar importa fazer uso de toda a sensibilidade, atenção e competência, por forma a estimular comportamentos positivos – sociais, emocionais, académicos, entre outros. Para alguns problemas comuns do comportamento infantil, podem ser úteis abordagens parentais específicas, comprovadamente mais eficazes. Neste artigo falaremos de birras e desobediência.

As birras e a desobediência ocorrem no normal desenvolvimento das crianças e atingem o auge durante os “terríveis dois anos”. É um indício saudável de que a criança procura autoafirmar-se. Ainda assim, uma abordagem correta e assertiva é importante para evitar que a desobediência ocasional descambe em longas lutas de poder que ensinam as crianças a resistir à maioria dos pedidos dos adultos. A persistência da desobediência tem sido associada a famílias com poucas regras e pais altamente permissivos ou, por outro lado, famílias com demasiadas regras e uma disciplina excessivamente rigorosa.

Dicas sempre úteis

  • Reduza o número de regras e concentre-se nas mais importantes, certificando-se de que são realistas e apropriadas para a idade do seu filho.

  • Dê ordens claras, específicas e positivas, explicando em detalhe os comportamentos que deseja ver o seu filho a adotar: “Vai para a cama, por favor” ou “Fala em voz baixa”, por exemplo.

  • Evite ordens vagas, negativas e críticas, como: “Porta-te bem” ou “Senta-te quieto ao menos uma vez na vida”.

  • Evite ordens em tom de pergunta, que implicam uma opção de não cumprimento. Por exemplo: “Não queres ir para a cama agora?”.

  • Dê-lhe tempo, se possível. Tal como os adultos, as crianças têm dificuldade em largar de repente uma atividade interessante. Um lembrete ou aviso algum tempo antes da ordem ajuda o seu filho a fazer as transições. Por exemplo: “Mais cinco minutos e são horas de ir para a cama”.

  • Elogie o cumprimento das ordens. Em geral, os pais dão atenção às crianças quando estas desobedecem e ignoram quando elas cumprem. Inverta esta situação, para que o seu filho sinta maior ganho em obedecer.

  • Estabeleça programas de reforço, com o qual recebem pontos ou autocolantes de cada vez que obedecem. Estes são colecionados e trocados por itens de uma lista de recompensas simbólicas, que não devem ser guloseimas nem dinheiro (mais uma história ao deitar ou um jogo consigo, por exemplo).

  • Nas crianças mais obstinadas, estabeleça um “tempo de pausa” como consequência. Afaste a criança da atenção dos adultos durante um breve período (máximo de 5 minutos, sendo que geralmente se adota 1 minuto por cada ano de idade da criança), dando-lhe a oportunidade para recuperar a calma, refletir sobre o seu comportamento e ponderar outras soluções. É uma abordagem de gestão da raiva/frustração que lhe será útil ao longo de toda a vida. Explique-lhe claramente quais os comportamentos que levam ao “tempo de pausa”. Em geral, serão: desobediência acentuada, comportamento de oposição/desafio, agressões ou atitudes destrutivas.

  • Prepare-se para ser testado. Tente ignorar os protestos menores, como resmungar enquanto cumpre a tarefa.

  • Dê o exemplo. Não se esqueça que modelar o comportamento desejado é uma das estratégias de ensino mais eficazes. Por exemplo, se a mãe chama a família para a mesa e o marido não vem porque quer acabar uma tarefa que tinha em mãos, está a dar um exemplo de incumprimento.

  • Aceite o temperamento do seu filho. O nível de atividade, disposição, grau de intensidade emocional, adaptabilidade, impulsividade e persistência podem variar muito dentro de um espetro considerado normal. Por exemplo: pais de crianças mais impulsivas podem ajudá-las a comportar-se adequadamente e a canalizar a sua energia num sentido positivo, mas não podem nem devem querer mudá-las.
  • O poder parental deve ser utilizado de forma responsável. Para se sentirem seguras, as crianças pequenas precisam de supervisão e disciplina firme. Esta consiste em ensinar-lhes que o mau comportamento tem consequências, mas simultaneamente fazê- las perceber que são amadas e se espera delas um melhor comportamento no futuro. Por outro lado, as crianças devem ter alguma liberdade para exercer poder de decisão no seio familiar (o que comer, o que vestir, etc.). Se nunca tiverem esta oportunidade, inevitavelmente surgirão comportamentos de oposição. A chave está no equilíbrio, em promover relações de cooperação na família e estimular a autoconfiança e autonomia das crianças. 

Por último, educar exige sensibilidade. Não há duas situações iguais. Pais sensíveis encaram os filhos de forma positiva, criam laços familiares fortes, transmitem competências sociais e emocionais e constroem alicerces para o futuro.

O luto na infância - como lidar de forma consciente

A parentalidade consciente convida-nos a estar verdadeiramente presentes e acolher as emoções das crianças com empatia e autenticidade. No l...