quarta-feira, 15 de outubro de 2025

PHDA - Dentro de um Coração Inquieto

 PHDA - Dentro de um Coração Inquieto




      Uma criança com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) enfrenta diariamente desafios invisíveis aos olhos de muitos. Entre a agitação interior e a constante luta pela concentração, carrega o peso de um mundo que nem sempre entende a sua forma única de estar e sentir. Enquanto os outros exigem silêncio, foco e autocontrolo, ela trava uma batalha silenciosa contra impulsos que não escolhe ter. Cada tarefa simples pode transformar-se num obstáculo, e cada crítica deixa uma marca na sua frágil autoestima. "Só não consegues porque não queres" - afirmam repetitivamente. E é verdade muitas vezes. Só quem conhece e compreende bem a PHDA sabe da extrema dificuldade em iniciar ou manter-se numa tarefa sem motivação alguma...chamem a dopamina por favor!!! Questões de ordem neurológica infelizmente confundem-se com personalidade, com "malandrice...". 


        Na escola, o esforço é duplo: tentar acompanhar o ritmo dos colegas enquanto lida com o excesso de atenção a todos os estímulos à sua volta, a impaciência e a dificuldade em permanecer quieta. Ao ser repreendida por comportamentos que não consegue controlar, sente-se diferente, isolada e, muitas vezes, injustiçada. A frustração por não corresponder às expectativas transforma-se em tristeza e num sentimento de inadequação que a faz duvidar do seu próprio valor. 


        Em casa, os dias oscilam entre tentativas de foco e desânimo. Cada crítica, mesmo que bem-intencionada, reforça a sensação de ser “demais”, “difícil” ou “irresponsável”. Ainda assim, e às vezes com o seu tão frequente olhar vazio, essa criança continua a tentar — uma e outra vez — moldar-se a um mundo que parece exigir-lhe o impossível. Dentro dela há uma força que resiste: a vontade de provar que é capaz, apesar das suas diferenças. Quanta resiliência!!!! 


        No fundo, o que a criança com PHDA mais precisa não é de reprovações, mas de compreensão e apoio. Precisa que vejam o seu esforço e reconheçam que cada pequeno progresso é fruto de uma imensa coragem. Precisam que alguém as ajude com o "sistema de travões" quando a impulsividade domina ou redirecione o seu "GPS" já que tantas vezes se perdem no decorrer das atividades diárias. Precisam de um parceiro de responsabilidades, isto é, alguém que atua como um guia externo para as funções executivas (planeamento, organização, autocontrolo) que são mais frágeis numa criança com PHDA. Esta parceria não só ajuda na conclusão de tarefas, mas também ensina à criança, de forma gradual e consistente, as competências de que necessita para se tornar mais independente e confiante. 

            Por trás de cada impulso, há um coração que apenas quer ser aceite e amado! 

Um apelo a todos os pais e professores que acompanham estas crianças: 

não os deixem sós com as suas lutas! 

Pode demorar e ser exigente, mas o retorno virá e não raras vezes até na idade adulta surge o reconhecimento de um adulto que acreditou e manteve-se firme, sem nunca questionar ou duvidar do valor daquela criança! Ela é muito mais que os seus desafios, mostrem-lhe isso e sobretudo e sem hesitação, reforcem as suas qualidades e talentos naturais, os seus interesses!!! Quando os descobrem e decidem seguir esse caminho ... são imparáveis, apaixonados e intensamente dedicados! Facilmente se tornarão os melhores dos melhores!!!

domingo, 5 de outubro de 2025

BRONQUIOLITE: O QUE OS PAIS PRECISAM DE SABER

 A bronquiolite é uma das principais causas de hospitalização em bebés durante o outono e inverno. Conhecer os sinais e saber como agir pode fazer toda a diferença para ajudar o vosso filho a recuperar bem.

O que é a Bronquiolite?

É uma infeção viral que afeta os bronquíolos (pequenos canais de ar nos pulmões), causando inflamação, inchaço e acumulação de muco que dificultam a respiração, especialmente nos mais pequenos.

Principal agente:

Vírus Sincicial Respiratório (VSR) em 70-80% dos casos. Outros agentes: rinovírus, adenovírus, vírus da gripe.

Maior risco:

Bebés com menos de 6 meses
Prematuros
Doenças cardíacas ou pulmonares crónicas
Sistema imunitário enfraquecido

Exposição ao fumo do tabaco

Como reconhecer a Bronquiolite?

Começa como uma constipação e evolui em 2-3 dias:

Sintomas iniciais:

Corrimento nasal, tosse ligeira, febre baixa (nem sempre) 

Evolução (dias 3-5):

Tosse frequente e intensa
Respiração rápida e superficial
Pieira (som agudo tipo 'assobio')
Tiragem (afundamento do peito entre costelas)
Dificuldade em mamar/comer
Irritabilidade e sono agitado

Sinais de alarme - Procurar urgência:

Lábios ou unhas azulados
Pausas respiratórias (apneia)
Recusa alimentar
Sonolência excessiva
Respiração muito rápida (>60/minuto no bebé)
Gemido ao respirar

Desidratação: boca seca, sem lágrimas, <4 fraldas molhadas/dia

Diagnóstico e Tratamento

Diagnóstico:

Essencialmente clínico (história e observação). Casos graves podem necessitar radiografia, teste viral ou oximetria.

Tratamento de suporte (antibióticos NÃO funcionam):

Em casa:

Hidratação frequente
Cabeça elevada 30o
Ambiente húmido
Limpeza nasal com soro antes de comer/dormir
Refeições pequenas e frequentes

Repouso

No hospital (casos graves):

Oxigénio suplementar
Hidratação endovenosa
Monitorização contínua

Aspiração de secreções

Não fazer:

Medicamentos para tosse sem indicação médica
Vaporizações não recomendadas
Fumar perto da criança

Suspender amamentação

Prevenção: como proteger o seu bebé?

Medidas gerais:

Lavagem de mãos
Evitar multidões no inverno
Ambiente sem fumo
Amamentação
Limpeza de brinquedos

Evitar contacto com doentes


VACINAÇÃO ANTI-VSR: A GRANDE NOVIDADE!

Desde 2024, Portugal dispõe do nirsevimab (Beyfortus®), anticorpo monoclonal que oferece proteção durante toda a época VSR.

Não é vacina tradicional, mas anticorpo que confere imunidade passiva imediata e prolongada.

A quem se destina:

Todos os RN e lactentes no 1o ano

Até 24 meses com fatores de risco

Quando:

Nascidos outubro-março: logo após nascimento
Nascidos fora época: antes início circulação vírus

Dose única

Eficácia comprovada:

70-80% redução hospitalizações
75% redução formas graves

Proteção ~5 meses (época completa)

No PNV desde setembro 2024 - GRATUITA!

Evolução habitual

Dias 1-3: início, tipo constipação

Dias 3-5: pico sintomas respiratórios
Dias 5-7: melhoria gradual

Semanas 2-4: resolução (tosse pode persistir)

2-3% necessitam internamento, especialmente <3 meses.

Cuidar em Casa - Dicas Práticas

Hidratação:

Líquidos frequentes (leite materno/fórmula/água). Mamadas mais curtas e frequentes se necessário.

Alimentação:

Pequenas refeições, não forçar, privilegiar líquidos se difícil comer sólidos.

Respiração:

Lavar nariz com soro antes refeições/sono, elevar cabeceira, ar húmido, evitar fumo/irritantes.

Monitorizar:

Frequência respiratória, cor lábios, fraldas molhadas, estado alerta.

Febre:

Paracetamol se desconforto (sob orientação), não agasalhar demais.

Bronquiolite vs. Asma

São condições diferentes que importa distinguir:

Bronquiolite:

É o primeiro episódio de doença respiratória com pieira, sibilância e dificuldade respiratória na infância, provocado por infeção viral. Antes da vacina anti-VSR, era causada maioritariamente pelo Vírus Sincicial Respiratório. Trata-se de um episódio agudo que, na maioria dos casos, não se repete.

Asma infantil:

Refere-se a episódios recorrentes de tosse, sibilância/pieira e dificuldade respiratória, de qualquer causa. O diagnóstico de asma pressupõe pelo menos 3 episódios em 12 meses. É uma doença crónica inflamatória das vias aéreas que requer acompanhamento e tratamento específico.

Relação entre ambas:

Alguns bebés que tiveram bronquiolite podem desenvolver episódios recorrentes de pieira posteriormente. Uma percentagem destes evolui para asma, mas a maioria não.

O acompanhamento pediátrico regular permite identificar precocemente quem beneficia de vigilância mais apertada e tratamento específico.

Conclusão

A bronquiolite é comum e a maioria das crianças supera sem complicações. O essencial é reconhecer os sinais precocemente, saber quando procurar ajuda médica, manter a calma e cuidar com amor.

O nirsevimab representa um avanço significativo na proteção dos bebés contra formas graves de bronquiolite. Fale com o pediatra sobre esta e outras formas de manter o vosso filho saudável.

Partilhem:


JÁ VIVERAM UMA SITUAÇÃO DE BRONQUIOLITE? TÊM DÚVIDAS SOBRE A VACINA ANTI-VSR? OS VOSSOS COMENTÁRIOS AJUDAM-NOS A CRIAR CONTEÚDOS ÚTEIS PARA TODA A COMUNIDADE.



Referências

Direção-Geral da Saúde - Orientações Bronquiolite Sociedade Portuguesa de Pediatria
American Academy of Pediatrics - Clinical Practice Guideline Programa Nacional de Vacinação 2024 

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Pequenas Mentiras, Grandes Lições: Navegando pela Honestidade na Infância

 



Como pais e educadores, a nossa reação instintiva perante uma mentira pode ser de alarme. 
Será que estamos a criar uma criança desonesta? 
A resposta, felizmente, é mais tranquilizadora do que parece! 


 Porque é que as crianças mentem?


    Mentir é, paradoxalmente, um marco importante no desenvolvimento infantil. Quando uma criança de 3 ou 4 anos conta a sua primeira mentira deliberada, ela demonstra habilidades cognitivas sofisticadas: capacidade de imaginação, compreensão de que outras pessoas têm pensamentos diferentes dos seus, e a habilidade de manipular informações para alcançar um objetivo.

    As razões pelas quais as crianças mentem variam conforme a idade e o contexto. Os pequenos entre 2 e 4 anos frequentemente confundem fantasia com realidade - aquele "monstro debaixo da cama" é muito real para eles. Já as crianças maiores podem mentir para evitar consequências, chamar à atenção ou até proteger os sentimentos de alguém. Poderá em casos específicos ocorrer como mecanismo de fuga de uma realidade com a qual a criança tem dificuldade em lidar ou fantasiar como forma de criar uma realidade mais agradável. 


 Como cultivar a Honestidade


    1) Seja um modelo: As crianças são observadoras excepcionais. Se nos veem a mentir ou a inventar desculpas para cancelar compromissos, internalizam que a desonestidade é aceitável em certas situações.

    2) Crie um ambiente seguro para a verdade: Quando uma criança confessa uma traquinice voluntariamente, reconheça a sua honestidade antes de abordar o comportamento problemático. "Obrigada por me contares a verdade. Agora vamos conversar sobre o que aconteceu."

  3) Evite armadilhas: Perguntar "Quem deixou essa desarrumação?" quando já sabe a resposta coloca a criança numa posição difícil. É mais eficaz dizer: "Vejo que está tudo desarrumado para estes lados. Vamos limpar juntos e conversar sobre como evitar isso."

   4) Diferenciação entre fantasia e mentira: Incentive a imaginação, mas ajude a criança a distinguir entre histórias inventadas e relatos factuais. "Que história interessante! Isso aconteceu de verdade ou estás a inventar uma história?"


Como lidar com mentiras recorrentes


    Se mentir se tornou um padrão, é importante investigar as causas subjacentes. A criança está a sentir-se sobrecarregada com expectativas? Tem medo de desiludir alguém? Precisa de mais atenção? Às vezes, mentiras frequentes sinalizam questões emocionais mais profundas que merecem atenção.

    Estabeleça consequências consistentes e lógicas, focando mais na reparação do que na punição. Se a criança mentiu sobre não fazer o TPC, a consequência natural é completar a tarefa, e não ficar sem o tablet durante uma semana.


A Honestidade como valor familiar


    Transforme a honestidade num valor familiar! Conte histórias sobre pessoas que escolheram a verdade mesmo quando foi difícil. Discuta dilemas éticos apropriados para a idade durante o jantar. Mostre que valoriza a coragem moral tanto quanto outras conquistas.

Lembre-se de que mesmo adultos lutam com questões de honestidade. Ensinar as crianças a navegar nessas águas complexas é um processo contínuo que requer paciência, consistência e, acima de tudo, muito amor.


Construir confiança para o futuro


    A relação que construímos com os nossos filhos em torno da verdade hoje moldará a sua integridade futura. Crianças que crescem seguras para serem honestas, mesmo quando cometem erros, desenvolvem uma base sólida para relacionamentos saudáveis e tomada de decisões éticas ao longo da vida.

    A jornada da honestidade infantil não é linear, mas cada pequeno passo - cada verdade difícil compartilhada, cada mentira gentilmente corrigida - constrói o caráter que nossos filhos levarão para o mundo. E isso, definitivamente, vale todo o esforço 💗








O luto na infância - como lidar de forma consciente

A parentalidade consciente convida-nos a estar verdadeiramente presentes e acolher as emoções das crianças com empatia e autenticidade. No l...