quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Desenvolvimento Infantil: do Nascimento aos 2 Anos de idade

    O desenvolvimento infantil pode ser definido como o conjunto de processos pelos quais a criança adquire habilidades motoras, cognitivas, sociais e emocionais, permitindo a interação com o ambiente de maneira cada vez mais sofisticada. Por exemplo, desde os primeiros movimentos reflexos e tentativas de erguer a cabeça até a formação de frases simples e demonstrações de empatia, o desenvolvimento segue um curso dinâmico e multifacetado, com grandes variações interindividuais.

    Entender esses processos é essencial para profissionais da área da saúde e da educação infantil, especialmente porque existe uma grande diversidade nos tempos de aquisição das diferentes habilidades. As idades mencionadas são indicativas e não absolutas, pois cada criança tem o seu ritmo de desenvolvimento. Por exemplo, há crianças que começam a caminhar aos 9 meses, enquanto outras apenas aos 18 meses, ambas dentro do intervalo considerado normal.
   Essa variabilidade ilustra a riqueza e diversidade no desenvolvimento infantil. Essa variabilidade reforça a importância de avaliar o progresso de forma individualizada, permitindo a identificação de marcos e sinais de alerta. Os estímulos externos, como brincadeiras interativas e um ambiente seguro e amoroso, têm um papel crucial na promoção do desenvolvimento. Ademais, a relação afetuosa entre cuidadores e crianças cria uma base essencial para o bem-estar emocional e o progresso motor e cognitivo. 
       Portanto, estimular a criança pequena com interações sociais positivas, cuidado amoroso e uma nutrição adequada é fundamental para promover o crescimento sólido e saudável. Por exemplo, brincar ao "cucu!" pode ajudar a fortalecer o vínculo emocional e promover habilidades sociais iniciais, enquanto oferecer alimentos variados e equilibrados estimula o paladar e apoia o desenvolvimento físico. Atividades como leitura de histórias ilustradas ou cantigas infantis ajudam a expandir a linguagem e a audição, criando uma rotina rica em estímulos positivos.

1. Motricidade Grossa

  1. Nascimento - 1 mês: Reflexos primitivos dominam (como o reflexo de Moro e o reflexo de preensão). A criança levanta brevemente a cabeça, mantendo-a por 3 a 5 segundos quando colocada de barriga para baixo. Sinal de alarme: Ausência de reflexos ou dificuldade para erguer a cabeça.
  2. 2-3 meses: Levanta a cabeça e o peito em posição ventral, começando a mover as pernas de forma coordenada. Sinal de alarme: Incapacidade de levantar a cabeça.
  3. 4-5 meses: Sustenta a cabeça com firmeza, rola de barriga para as costas, tenta alcançar objetos. Sinal de alarme: Não rolar ou manter a cabeça ereta.
  4. 6-7 meses: Senta com apoio e, posteriormente, sem apoio. Pode balançar o corpo como pré-gatinhar. Sinal de alarme: Não tenta sentar ou se sustentar sozinho.
  5. 8-10 meses: Começa a gatinhar, puxa-se para ficar de pé com apoio. Sinal de alarme: Não apresenta tentativas de mobilidade.
  6. 11-12 meses: Anda com apoio em móveis, pode dar os primeiros passos sem suporte. Sinal de alarme: Incapacidade de sustentar peso nas pernas.
  7. 12-18 meses: Caminha sozinho, tenta correr, sobe degraus com ajuda. Sinal de alarme: Não anda até os 18 meses.
  8. 18-24 meses: Corre, sobe e desce escadas com apoio, chuta bola e pode tentar saltar. Sinal de alarme: Falta de equilíbrio significativo ou dificuldade motora global.

2. Visão e Motricidade Fina

  1. Nascimento - 1 mês: Fixação breve em objetos próximos, preferência por rostos humanos. Sinal de alarme: Ausência de fixação visual.
  2. 2-3 meses: Segue objetos com o olhar em diferentes direções, explora as próprias mãos. Sinal de alarme: Incapacidade de seguir objetos visuais.
  3. 4-5 meses: Alcança e segura objetos, leva-os à boca. Sinal de alarme: Não tenta agarrar objetos.
  4. 6-7 meses: Transfere objetos entre as mãos, melhora a coordenação motora fina. Sinal de alarme: Não realiza transferência entre as mãos.
  5. 8-9 meses: Desenvolve preensão em pinça (polegar e indicador), manipula pequenos objetos. Sinal de alarme: Dificuldade com preensão fina.
  6. 9-12 meses: Aponta com intenção e manipula brinquedos pequenos. Apontar com intenção demonstra capacidade de atenção conjunta, um marco no desenvolvimento comunicativo. Para estimular essa habilidade, os pais podem seguir o olhar da criança e nomear os objetos de interesse, reforçando a conexão entre o gesto e a comunicação verbal. Sinais de alarme: Ausência de apontar ou interesse por objetos até 12-15 meses.
  7. 12-18 meses: Folheia páginas de livros, desenha linhas simples com lápis grosso. Sinal de alarme: Dificuldade em manipular objetos ou usar ferramentas simples.
  8. 18-24 meses: Constrói torres de blocos, usa utensílios como colher ou garfo. Sinal de alarme: Falta de coordenação motora fina funcional.


3. Audição e Linguagem



  1. Nascimento - 1 mês: Reage a sons altos e reconhece a voz da mãe. Sinal de alarme: Ausência de reação a estímulos sonoros.
  2. 2-3 meses: Emite sons guturais, responde ao contato visual durante interações. Sinal de alarme: Ausência de vocalizações.
  3. 4-6 meses: Balbucia sílabas simples ("ba", "da"), reage ao próprio nome. Sinal de alarme: Falta de balbucio.
  4. 7-9 meses: Balbucio mais complexo e imitação de entonações. Sinal de alarme: Falta de tentativa de imitar sons.
  5. 10-12 meses: Primeiras palavras com significado, segue comandos simples acompanhados de gestos. Sinal de alarme: Falta de palavras funcionais.
  6. 12-18 meses: Expande vocabulário, reconhece partes do corpo. Sinal de alarme: Não aponta ou tenta comunicar.
  7. 18-24 meses: Forma frases simples e compreende questões básicas. Sinal de alarme: Não usa combinações de palavras.

4. Social e Emocional
  1. Nascimento - 1 mês: Contato visual frequente, choro para expressar necessidades. Sinal de alarme: Falta de interesse visual.
  2. 1-3 meses: Sorriso social emerge como resposta a interações. Sinal de alarme: Ausência de sorriso social.
  3. 4-6 meses: Riso espontâneo e interação ativa com cuidadores. Sinal de alarme: Não responde a brincadeiras.
  4. 6-9 meses: Demonstra preferências por pessoas conhecidas, estranha desconhecidos. Sinal de alarme: Falta de discriminação social.
  5. 10-12 meses: Procura ativamente atenção e imita gestos simples. Sinal de alarme: Não procura interação social.
  6. 12-18 meses: Faz brincadeiras de imitação e ajuda em pequenas tarefas. Sinal de alarme: Não demonstra interesse em brincar.
  7. 18-24 meses: Mostra empatia, brinca ao lado de outras crianças. Sinal de alarme: Ausência de habilidades sociais emergentes.
O QUE FAZER EM CASA PARA ESTIMULAR O DESENVOLVIMENTO?

1. Motricidade Grossa
  1. Nascimento - 3 meses: Coloque a criança de barriga para baixo (“tummy time”) por curtos períodos diariamente para fortalecer os músculos do pescoço e tronco. Use brinquedos ou um espelho posicionado ao nível dos olhos para encorajar a elevação da cabeça.
  2. 4-6 meses: Incentive o rolar para ambos os lados ao posicionar brinquedos coloridos ao lado da criança. Para estimular o sentar: Sente a criança com apoio (como almofadas ou no colo) para fortalecer os músculos posturais. Gradualmente, reduza o suporte para encorajar o equilíbrio independente. Brinquedos colocados ao alcance incentivam a interação enquanto está sentada.
  3. 7-9 meses: Use brinquedos que estimulem a criança a gatinhar: crie um percurso no chão com objetos coloridos ou brinquedos desejáveis fora do alcance imediato para incentivar o movimento em direção a eles. Use superfícies seguras e confortáveis, como um tapete, para evitar desconforto.
  4. 10-12 meses: Proporcione móveis seguros, como mesas baixas ou cadeiras firmes, para a criança apoiar-se enquanto tenta ficar em pé ou andar. Alternativamente, brinquedos de empurrar ou carrinhos estáveis podem ser usados para incentivar os primeiros passos com segurança. Segure as mãos da criança enquanto ela dá os primeiros passos. Coloque brinquedos ou objetos motivadores a curta distância para incentivá-la a caminhar em direção a eles.
  5. 12-24 meses: Crie circuitos simples com almofadas ou brinquedos para incentivar movimentos como subir, descer e saltar.
2. Visão e Motricidade Fina
  1. Nascimento - 3 meses: Pendure brinquedos suspensos com cores contrastantes acima do berço para estimular o seguimento visual.
  2. 4-6 meses: Ofereça brinquedos leves e fáceis de segurar para estimular a preensão palmar.
  3. 7-9 meses: Apresente caixas de encaixe ou brinquedos com texturas diferentes para manipulação.
  4. 10-12 meses: Introduza atividades como empilhar blocos ou brincar com potes que possam ser abertos e fechados.
  5. 12-24 meses: Incentive o uso de giz de cera grosso para rabiscos e ajude a construir torres de blocos mais altos.
3. Audição e Linguagem
  1. Nascimento - 3 meses: Converse frequentemente com a criança, imitando sons que ela emite.
  2. 4-6 meses: Cante músicas infantis e use brinquedos que produzam sons para manter o interesse auditivo.
  3. 7-9 meses: Leia livros ilustrados simples, nomeando os objetos e incentivando a criança a observar as imagens.
  4. 10-12 meses: Use comandos simples como “dê-me” ou “adeus” enquanto realiza os gestos correspondentes.
  5. 12-24 meses: Estimule a formação de frases simples, como “eu quero”, apontando para objetos desejados.
4. Social e Emocional
  1. Nascimento - 3 meses: Responda ao sorriso da criança e ofereça contato visual frequente.
  2. 4-6 meses: Brinque ao “fazer cucu” e outras interações sociais que envolvam turnos.
  3. 7-9 meses: Incentive o estranhamento de desconhecidos em ambientes seguros, reforçando o vínculo com os cuidadores.
  4. 10-12 meses: Imite gestos simples da criança e incentive brincadeiras como bater palmas.
  5. 12-24 meses: Promova brincadeiras em grupo ou com outras crianças para estimular a empatia e habilidades sociais. Exemplos incluem partilhar brinquedos durante a brincadeira, jogos de turnos como passar uma bola ou construir algo em conjunto, e atividades como jogos de faz-de-conta que incentivam a cooperação e a comunicação.
CONCLUSÃO

    O desenvolvimento infantil é um processo multifacetado que exige um ambiente de cuidado, amor e interações significativas. 

    Os estímulos oferecidos por cuidadores desempenham um papel central no suporte aos marcos de desenvolvimento e na identificação precoce de atrasos. 

    Assim, profissionais e cuidadores devem trabalhar em parceria para criar condições que favoreçam o crescimento integral da criança, promovendo sua saúde e bem-estar.

sábado, 21 de dezembro de 2024

Natal, Prendas e Comportamento. Qual a relação?

"Se te portas mal o Pai Natal não te traz presentes..."
"Olha que o Pai Natal vê tudo o que tu fazes..."
"Se não tirares boas notas diz adeus à prenda que pediste no Natal..."



Afirmações destas são comuns nas mais diversas conversas, seja em ambiente familiar, em locais públicos, nas salas de aula…. Valem uma boa reflexão tal é a angústia que muitas crianças e até os próprios pais sentem com o peso destas palavras!

Podemos colocar várias questões:

  • Porquê utilizar o Natal como recompensa ou castigo se não o é? Qual é afinal o verdadeiro espírito de Natal? O Natal é uma festa da família independentemente de tudo o que possa acontecer na nossa vida. Natal é amor, é família, é conexão, harmonia, é celebração!!! Valores mais altos se erguem do que um comportamento desadequado ou uma baixa nota escolar.
  • Por falar em notas escolares.... Será legítimo punir uma criança nos presentes de Natal se as verdadeiras causas do insucesso escolar residem na falta de motivação, gestão de tempo, gestão emocional, fatores do contexto, entre outras? Há vida para além da escola!
  • Porquê fazer ameaças às crianças se na maior parte das vezes não se cumpre? Ou os adultos passam por mentirosos ou entram em absoluto descrédito porque "falam, falam, falam e depois não é nada!"
  • Compreendendo e aceitando a importância de passar à criança a noção de consequência, não deverá esta estar diretamente associada ao comportamento em si? Além disso, refletir e investir nas soluções sempre dá mais resultado do que focar nos problemas! Porquê apenas punir e não incentivar? No final das contas, nós queremos que os nossos filhos aprendam conquistando experiência de vida e desenvolvendo consciência e não que se sintam castigados e mal-amados por atos que muitas vezes nem eles próprios ainda têm maturidade para compreender e controlar!
  • Mesmo que as crianças nem sempre tenham comportamentos "adequados" (e isto daria uma bela outra conversa!) também têm comportamentos maravilhosos e são maravilhosas!

Para quê complicar?

Natal é conexão ❤️

domingo, 15 de dezembro de 2024

Desta vez... é a Diarreia!

A diarreia é um problema comum na infância, caracterizada pelo aparecimento de fezes aquosas/amolecidas e/ou com maior frequência do que o habitual. 

Embora possa preocupar, na maioria dos casos, a diarreia é benigna e tem resolução espontânea. 

No entanto, é importante saber como identificar a diarreia, suas causas e quando procurar ajuda médica.

O que é a diarreia?

A diarreia ocorre quando as fezes são mais líquidas do que o normal e/ou surgem com maior frequência que o habitual. Pode ter diversas causas como infeções virais, bacterianas ou parasitárias, além de outros problemas de saúde.

Diarreia Aguda vs. Crónica: Qual a diferença?
  • Diarreia Aguda: Tem início súbito e dura poucos dias, geralmente até 2 semanas. É a forma mais comum em crianças e, na maioria das vezes, é causada por vírus (gastroenterite aguda de causa vírica).
  • Diarreia Crónica: Dura mais de duas semanas. Pode ter diversas causas, como alergias alimentares, intolerâncias, doenças inflamatórias intestinais e outras.
Principais Causas da Diarreia Aguda

As causas mais comuns da diarreia aguda são infeciosas e geralmente autolimitadas:
  • Vírus: Rotavírus, Norovirus, Adenovírus. São os principais causadores de diarreia aguda em crianças.
  • Bactérias: Salmonella, Shigella, Campylobacter, Escherichia coli. A contaminação de alimentos ou água é a principal forma de transmissão. Causam diarreia sanguinolenta e febre elevada.
  • Parasitas: Giardia, Cryptosporidium. São menos comuns, mas podem causar diarreia aguda ou crónica.
  • Intoxicação alimentar: Ingestão de alimentos contaminados por toxinas bacterianas.
Principais Causas da Diarreia Crónica

As causas da diarreia crónica são mais variadas e podem exigir uma investigação mais aprofundada:
  • Intolerâncias alimentares: Lactose, frutose, celíaca.
  • Doenças inflamatórias intestinais: Doença de Chron, colite ulcerosa.
  • Síndrome do intestino irritável: Uma disfunção do intestino que causa dor abdominal e alterações no hábito intestinal.
  • Infeções crónicas: Parasitas, bactérias resistentes.
  • Medicamentos: Alguns medicamentos podem causar diarreia como efeito colateral (antibióticos, p.ex.)
Como gerir a diarreia em casa?
  • Hidratação: É fundamental repor os líquidos perdidos através de soros de reidratação oral (SRO).
  • Uso de Probióticos.
  • Dieta: Oferecer uma dieta leve, com alimentos fáceis de digerir, como arroz, banana e maçã cozida. Evitar alimentos gordurosos, produtos com lactose e alimentos ricos em fibra.
  • Repouso: Deixar a criança descansar.
  • Higiene: Lavar bem as mãos com água e sabão após ir ao banheiro e antes das refeições.
Quando Procurar Ajuda Médica?
  • Sinais de desidratação: boca seca, olhos fundos, 
  • Pouca urina, choro sem lágrimas.
  • Febre elevada e difícil de baixar.
  • Sangue nas fezes.
  • Vômitos persistentes.
  • Diarreia intensa e prolongada.
  • Dor abdominal intensa.
  • Diarreia Crónica: avaliar sempre!
Diarreia Crónica: A Importância da Avaliação Médica

A diarreia crónica exige uma avaliação médica completa para identificar a causa e iniciar o tratamento adequado. O médico pode solicitar exames como:
  • Exame de fezes: para identificar a presença de sangue, parasitas, vírus ou bactérias.
  • Exames de sangue: para avaliar a função renal, hepática e identificar marcadores inflamatórios, despiste de alergias alimentares e de doença celíaca.
  • Endoscopia alta e/ou baixa: para visualizar o interior do estomago, duodeno, reto e cólon, coletar amostras para análise.
Tratamento da Diarreia

O tratamento da diarreia depende da causa. Na diarreia aguda, o foco é na reidratação e no alívio dos sintomas. Na diarreia crónica, o tratamento é direcionado à causa subjacente.

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 - É importante referir que este texto tem caráter informativo e não substitui a avaliação médica - 




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